Título: Bancada do PSDB sofre pressão de todos os lados
Autor: Camarotti, Gerson; Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 13/12/2007, O País, p. 8

Serra e Aécio tentaram forçar aprovação da CPMF; FH e Virgílio ficaram contra, conseguindo o apoio dos senadores

BRASÍLIA. A pressão do Palácio do Planalto para tentar conseguir os votos na bancada tucana para aprovar a CPMF ameaçou a unidade do PSDB, mas, após muita tensão, os 13 senadores do partido votaram de forma unânime contra a prorrogação da CPMF. No início da noite de ontem, a maior preocupação da cúpula tucana era a de evitar o racha na legenda. Na avaliação de um senador que participou das negociações, por muito pouco o partido não foi dividido para a votação da CPMF. Ao fim de incontáveis e tensas reuniões, vivendo um dilema dramático, parte dos tucanos temia pagar o ônus da possível falta de recursos para a saúde e para os estados governados pelo partido, mas venceu a parte que considerou mais importante impor uma derrota política ao governo.

- Tudo o que não podíamos era rachar a bancada. Temos que entender que o embate não termina agora. Essa disputa vai até 2010. Se não tivéssemos os 13 senadores tucanos unidos, perderíamos a nossa força - ressaltou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), um dos que chegaram a defender que se tentasse um acordo com o governo.

A avaliação reservada feita na cúpula do partido é de que nos últimos dois dias o PSDB enfrentou a sua pior crise desde a sua fundação, no fim dos anos 80. De um lado, o grupo de governadores liderados pelos presidenciáveis José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) pressionava a bancada para fechar um acordo com o governo. Do outro lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), tentavam manter a posição contrária à CPMF.

Lula procurou Serra e Aécio

O presidente Lula conseguiu reabrir as negociações com o PSDB depois de contatos com Serra e Aécio, anteontem. O debate interno foi mantido até o início da votação, na noite de ontem. Para conseguir o apoio do PSDB, o Planalto aceitou uma proposta que foi apresentada pelo próprio partido: a renovação por apenas um ano da CPMF, com destinação maior para a saúde, além do compromisso em votar a reforma tributária.

Diante da proposta, a maioria da bancada mostrou-se simpática a aprovar a CPMF. Teria um forte argumento para mudar de posição. Mas a avaliação era de que o partido havia radicalizado demais uma posição, o que tornava difícil voltar atrás. Durante todo o dia de ontem, o senador Sérgio Guerra ficou em contato permanente com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que estava no Palácio do Planalto para negociar com a oposição.

No início da tarde, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), foi pessoalmente ao gabinete de Sérgio Guerra para fazer a proposta. Pela segunda vez, em menos de 24 horas, foi convocada uma reunião de bancada para analisar a situação no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Uma parte expressiva da bancada defendeu a nova proposta. Mas os tucanos não conseguiram chegar a um consenso.

- Essa proposta de limitar a CPMF por apenas um ano foi feita originalmente pelo PSDB. Sendo que na ocasião, o governo não aceitou. Só na última hora, com uma eventual derrota, o Planalto resolveu ceder. Mas já era tarde. Até porque não há nada concreto. O que existe é promessa. E já estamos escaldados com o governo - disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que ameaçou deixar o partido se este cedesse.

Percebendo a pressão dos governadores, setores da bancada do PSDB resolveram intensificar o discurso para constranger o partido a não liberar a bancada para votar a favor da CPMF. A estratégia de radicalizar o discurso tucano acabou prevalecendo.

- O governo não conseguiu os 49 votos em um ano e quer agora que o PSDB resolva a situação em um dia? De jeito nenhum, temos que ter tempo para conversar! Até porque não fizeram qualquer proposta formal e, se ela chegar, vamos precisar de um tempo para discutir. O Serra liga o tempo todo pressionando para que a bancada vote pela CPMF - protestou o senador Marconi Perillo (PSDB-GO).

Outro que radicalizou o discurso foi o senador Flexa Ribeiro (PA), que acusou o governo de tentar responsabilizar a oposição por uma possível derrota da CPMF e eventual comprometimento de programas sociais.

- Querem carimbar a oposição pela responsabilidade da votação da CPMF. Só fizeram essa proposta de última hora porque não tinham voto. Foi um ato de desespero, até porque, se tivesse voto, o Planalto teria passado o trator na oposição. Não podemos acreditar num governo que sofre de metamorfose - argumentou Flexa Ribeiro.

Mas o momento mais tenso ocorreu na noite anterior, numa primeira reunião no gabinete do senador Sérgio Guerra. O encontro foi convocado para analisar uma primeira proposta do governo de destinar a totalidade dos recursos da CPMF para a saúde. O plano, que contava com o aval de Serra, foi levado pelo governador Eduardo Campos. Pelo menos sete dos treze senadores tucanos passaram a defender a idéia. Mas não foi suficiente.

Líder ameaçou deixar o cargo

Defendiam esta posição, na noite de terça-feira, o presidente do partido, Sergio Guerra (PE), Tasso Jereissati (CE), Eduardo Azeredo (MG), Marisa Serrano (MS), Lúcia Vânia (GO), João Tenório (AL) e Cícero Lucena (PB). O líder Arthur Virgílio ameaçou deixar o cargo se a maioria da bancada tomasse a decisão de liberar os tucanos na votação.

- Vou ficar desmoralizado. Se o partido liberar o voto, deixo a liderança - disse Virgílio.

- Arthur, o mínimo que precisamos ter no partido é diálogo. Você não está sendo desmoralizado, você precisa se acalmar - reagiu Tasso.

No decorrer da reunião, que durou duas horas e meia, chegaram Flexa Ribeiro (PA), Arthur Virgílio e Papaléo Paes (AP). Eles argumentaram que a bancada se desintegraria se o voto fosse liberado.