Título: De qualquer forma, governo sai derrotado
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 13/12/2007, O País, p. 10

Processo para aprovar CPMF expôs fragilidade no Senado.

BRASÍLIA. Independentemente do resultado da votação da CPMF, a avaliação reservada feita no Planalto é de que já existe um grande derrotado neste processo de quase três meses de negociação para tentar aprovar a prorrogação: o próprio governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A percepção no núcleo de articulação política do Palácio é de que a negociação expôs a fragilidade do governo no Senado e explicitou a ausência de uma maioria consistente.

Segundo um interlocutor do governo que participou de todo o processo de negociação no Senado, mesmo se conseguir aprovação, o Planalto sairá enfraquecido por ter utilizado métodos heterodoxos para conseguir os votos necessários. Ou seja, nesse cenário o governo terá perdido densidade política ao partir para a cooptação individual de senadores com o oferecimento de cargos e emendas.

Mas no Palácio, foi desenhado ontem um cenário ainda pior: o da derrota do governo no Senado. Nesse caso, além do enfraquecimento político, o Executivo teria que conviver com a perda orçamentária de R$40 bilhões. E depois de ter feito um discurso alarmista de ingovernabilidade sem os recursos da CPMF, teria que recuar dessa posição para evitar que a ausência do dinheiro prejudique a imagem do Brasil diante do mercado financeiro internacional.

- O governo sempre teve dificuldade e problemas no Senado. Por isso, tivemos que votar com a oposição em todas as matérias mais delicadas. Aqui, tudo é muito complexo, e a ordem sempre foi a da negociação. Historicamente, o governo não trabalha bem a sua base no Senado. Há muitos aliados insatisfeitos - admitiu o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Percepção é de que faltou habilidade política a Mantega

No Planalto, a percepção é de que o maior erro durante o processo de negociação foi o de não ter optado por um entendimento com a oposição e também que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não teve habilidade política para fechar acordo com o PSDB, obrigando o Planalto a partir para a barganha individual com a oposição.

Outro erro apontado foi o ataque incisivo de Lula contra a oposição, o que fechou canais de negociação com o DEM e o PSDB. Segundo um ministro, só agora caiu a ficha no governo de que durante todo esse período o Planalto subestimou o Senado.

- Minha experiência reforça a convicção de que no Senado o único caminho possível é o da negociação do mérito. Para isso, é preciso paciência e diálogo. Aqui, nunca tivemos uma maioria de rolo compressor. E isso não funcionaria na Casa. O governo não entende as diferenças entre o Senado e a Câmara - disse o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).