Título: Garibaldi é eleito para a presidência do Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 13/12/2007, O País, p. 13

Por 68 votos a favor, oito contra e duas abstenções, plenário homologa vitória de peemedebista para suceder a Renan

BRASÍLIA. Com 68 votos a favor, oito contra e duas abstenções, o plenário do Senado homologou ontem a eleição de Garibaldi Alves (PMDB-RN) como novo presidente da Casa. Em seu primeiro pronunciamento depois de eleito, Garibaldi pediu a ajuda dos colegas para a difícil tarefa de recuperar a credibilidade do Senado. E mostrou ter tirado lições da crise enfrentada pela instituição e por seu antecessor, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) - que só renunciou ao cargo para salvar o próprio mandato pouco antes de seu segundo julgamento -, ao demonstrar sua preocupação em renovar diariamente a legitimidade de sua vitória.

Renan compareceu à votação de seu sucessor.

- A primeira palavra do novo presidente do Senado é de convocação, apelo e acolhida: os que me elegeram estejam sempre atentos e perto do presidente, prontos para adverti-lo se fraquezas humanas ou políticas o tentarem a se desviar, mesmo que involuntariamente, da permanente renovação da legitimidade nascida desta eleição - discursou Garibaldi.

Desculpas por contrariar líder do partido

Ele fez questão ainda de agradecer o apoio recebido pela direção do PMDB e ressaltou em especial a postura assumida pelo ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que, embora fosse o nome favorito na bancada peemedebista e do Palácio do Planalto para a presidência do Senado, abriu mão da disputa e o apoiou no confronto na bancada contra o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Desculpou-se por ter contrariado o líder de seu partido, Valdir Raupp (RR), ao lançar sua candidatura antes da renúncia de Renan Calheiros.

- Eu contrariei o líder na busca incessante dos votos. Valdir Raupp, seu eu fosse atender o seu conselho, talvez eu não tivesse desfrutado daquela situação eleitoral que desfrutei - disse.

A despeito da contrariedade de parte da bancada do PT em apoiar a candidatura de Garibaldi Alves, devido à sua implacável atuação como relator da CPI dos Bingos, que investigou denúncias de corrupção contra o governo Lula entre 2005 e 2006, a sessão que elegeu o novo presidente do Senado ocorreu em clima festivo. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), foi um dos poucos que justificaram o apoio de seu partido à candidatura apresentada pelo PMDB.

- Senador Garibaldi Alves, nós não lançamos uma anticandidatura porque vossa excelência vinha de um passado bastante construtivo na relação conosco. Foi relator da CPI dos Bingos, que investigou corrupção grossa, apontou culpados, exigiu providências. E foi precisamente nesse homem que o PSDB votou - salientou Virgílio.

Em entrevista coletiva, Garibaldi teve o cuidado de reiterar seu compromisso com a oposição de manter uma postura de independência em relação ao Executivo, mas deixou claro que seu comportamento como presidente do Senado exigirá um postura diferente daqui em diante:

- Não se pode esperar que eu, como presidente do Senado, tenha um comportamento como o que tive como relator de uma CPI. Terei de ter um cuidado maior.

Garibaldi também confirmou sua intenção de dar uma maior transparência às contas do Senado, mas não quis detalhar que tipo de medidas pretende adotar para viabilizar isso. Ele evitou ainda antecipar possíveis mudanças que possa vir a fazer na estrutura do Senado, quando perguntado se pretendia substituir o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, ou a secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra, acusada de ter tentado proteger o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) durante a crise que o atingiu enquanto presidia a Casa.

- Há possibilidade de mudanças. Ninguém que chega é obrigado a manter toda a estrutura que encontra, mas também não deve passar por cima de ninguém - desconversou.

Antes mesmo do início da sessão extraordinária, Garibaldi já era cumprimentado efusivamente por colegas, funcionários da Casa e vários deputados que fizeram questão de prestigiar sua eleição. Entre eles o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), e o líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), primo do novo presidente do Senado, que chegou em uma cadeira de rodas por estar se recuperando de uma cirurgia no joelho. A líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), foi outra que também chegou ao plenário em cadeira de rodas, devido a uma fratura no braço que exige uma tração.

- Agora só falta chamar (Epitácio) Cafeteira (PTB-MA) - que usa um carrinho elétrico para se deslocar dentro do Senado - para o engarrafamento ser completo - brincou a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).

Tião Viana, o interino, esquecido no discurso

O ex-governador Jorge Viana fez questão de assistir ao último dia de interinidade do irmão, o senador Tião Viana (PT-AC), que assumiu o comando da Casa desde que Renan se afastou do cargo no dia 11 de outubro. Garibaldi, no entanto, esqueceu de mencioná-lo em seu discurso de posse. Derrotado na disputa interna do PMDB que indicou seu candidato à sucessão no Senado, Simon manifestou sua disposição de colaborar com Garibaldi, mas advertiu o colega sobre as pressões que poderão vir do Palácio do Planalto para que ele ajude o governo.

- Ajudar não pode significar submissão - observou.

Na primeira entrevista coletiva concedida após a eleição, Garibaldi foi questionado sobre matéria publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" que informa que o Ministério Público do Rio Grande do Norte investiga desvio de verba pública em 2002 para a campanha de Fernando Freire, seu ex-vice governador e candidato ao governo do estado. Recursos da Secretaria de Defesa Social, R$210 mil, teriam sido desviados pela Polis Propaganda e Publicidade, que pertence ao publicitário João Santana, que também prestou serviços a Garibaldi, que disputava uma vaga no Senado. Mas ele não figura na denúncia.

- Quem não deve não teme. Essa denúncia não é nova, é velha. Nada foi apurado contra mim. Meu nome não consta nessa denúncia. Minhas contas de campanha foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral - rebateu o senador.