Título: Arrocho também para senadores
Autor: Colon, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2009, Política, p. 3

Apesar da insatisfação, Mesa Diretora da Casa seguiu a Câmara e proibiu abusos na utilização indiscriminada de passagens

José Sarney: decisão tomada depois de um almoço com Michel Temer, presidente da Câmara ¿Daqui a pouco, nós estaremos recebendo vale-transporte.¿ A reação do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) simboliza o clima dentro do Senado após a decisão do presidente José Sarney (PMDB-AP) de proibir o uso de passagens aéreas por parentes dos parlamentares. ¿Posso ir toda semana ao meu estado, e quando não puder? Vou pagar uma passagem para minha família vir aqui me visitar? Não tem condições¿, reforçou Papaléo Paes (PSDB-AP).

A decisão de Sarney foi selada num almoço com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Os dois optaram por enfrentar as resistências internas para controlar a crise externa gerada pelo uso abusivo de passagens por deputados e senadores. No início da tarde, o presidente do Senado convocou os integrantes da Mesa Diretora e comunicou a medida, aprovada logo em seguida. Ao informá-la ao plenário, Sarney ouviu reclamações.

O ato aprovado ontem estabelece uma cota mensal de cinco bilhetes de ida e volta entre Brasília e a capital do estado do senador. A verba poderá ser usada somente pelo parlamentar ou por assessores, desde que, nesse caso, haja uma comunicação prévia à Mesa Diretora. Viagem ao exterior, nem pensar. Somente com aval do comando da Casa. Os senadores ganharão, pelo menos, um fôlego na prestação de contas: 90 dias. Dentro desste prazo, o Senado promete publicar essas despesas em seu site. O petista Eduardo Suplicy (SP) pediu a redução para 30 dias, mas, por enquanto, não foi atendido.

Pressão A nova medida foi decidida uma semana depois de a Mesa Diretora do Senado aprovar um ato mudando as regras das passagens. Só que o texto votado permitia a utilização de passagens por familiares. Nos últimos dias, novas revelações foram feitas sobre o uso abusivo pelos parlamentares, principalmente na Câmara. A crise começou a respingar no Senado e Sarney decidiu antecipar-se. Reuniu-se com Temer e resolveu seguir o mesmo caminho adotado pela Câmara.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), considerou a mudança importante para a melhoria da imagem do Parlamento. ¿Entendo que o Congresso não pode, de forma alguma, se furtar de ser objeto de debate intenso ou de ser ele próprio o proponente de um debate intenso sobre o seu próprio papel¿, afirmou.

Já o senador Almeida Lima (PMDB-SE) subiu à tribuna para criticar reportagem publicada ontem pelo Correio sobre o uso de milhagem da cota dele para passear no exterior. ¿É uma ignomínia, uma blasfêmia, uma agressão ao Senado Federal¿, afirmou. Em entrevista à reportagem na terça-feira, o senador contou que usou as milhas obtidas com a cota do Senado para viajar com a esposa para França, Canadá e EUA nos últimos anos. ¿Eu uso o meu cartão fidelidade para mim ou minha mulher, da cota de passagens, pronto e acabou. Não tem problema nenhum, vou de primeira classe, em voo internacional¿, afirmou.