Título: País volta a importar capital
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 13/12/2007, Economia, p. 30

Necessidade de financiamento fica em R$255 milhões.

Pela primeira vez desde 2001, a economia brasileira apresentou necessidade de financiamento no terceiro trimestre deste ano. Isso significa que, na prática, o país precisou importar capital de outros países para financiar seu crescimento. A necessidade de financiamento foi de R$255 milhões. No terceiro trimestre do ano passado, o quadro era de capacidade de financiamento, ou seja, excedente de recursos, de R$14 bilhões.

Segundo Claudia Dionisio, da coordenação de Contas Nacionais do IBGE, essa mudança reflete principalmente o forte crescimento das importações. No terceiro trimestre, enquanto as exportações cresceram 1,8%, as importações tiveram avanço bem maior, de 20,4%. Com isso, houve uma redução de R$12,8 bilhões no saldo externo brasileiro no terceiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado.

Nas contas do Banco Central (BC), porém, as trocas do Brasil com o exterior ainda aparecem positivas. O saldo em transações correntes no terceiro trimestre superou US$1 bilhão, segundo o BC. Essa diferença ocorre porque o IBGE estima um valor para os produtos importados por contrabando, que não aparecem nas estatísticas do BC.

Precisar de financiamento externo para fechar as contas não parece um sinal de preocupação para os economistas. José Ronaldo de Souza Júnior, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que as importações, que motivaram essa necessidade de dinheiro externo, têm permitido que a demanda aumente sem inflação:

- O consumo cresce acima da oferta e tem sido abastecido pelas importações.

Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, acrescenta que essa necessidade de financiamento externo também indica que os brasileiros estão consumindo mais que poupando. Desse modo, é preciso buscar recursos no exterior:

- Num país como o Brasil, a demanda reprimida é enorme. Qualquer ganho de renda vai para o consumo. Então, é natural que haja financiamento externo. (Luciana Rodrigues e Cássia Almeida)