Título: Investimentos registram alta recorde de 14,4%
Autor: Rodrigues, Luciana; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 13/12/2007, Economia, p. 31

PIBÃO: Corte dos juros básicos e avanço de mais de 25% no financiamento para as empresas explicam aumento

Com resultado do terceiro trimestre, economia brasileira pode crescer 4,7% sem inflação, estima consultoria

A forte expansão dos investimentos no terceiro trimestre deve ampliar o potencial de crescimento da economia brasileira. A formação bruta de capital fixo (que inclui os investimentos de indústria e agropecuária em máquinas e equipamentos, mais a construção civil) cresceu 14,4% frente ao terceiro trimestre de 2006 e 4,5% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já com ajuste sazonal. Foi um alta recorde (a série histórica do IBGE começa em 1996) e bem superior à prevista pelos analistas.

- Sem dúvida, o grande destaque do PIB veio dos investimentos. O crescimento é expressivo em qualquer comparação e generalizado por diferentes setores. Foi puxado tanto pela importação como pela produção doméstica de máquinas e equipamentos. A construção civil também cresceu, porém a um ritmo menor, de 5% frente ao terceiro trimestre de 2006 - afirma Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.

Além do bom desempenho no último trimestre, os investimentos também cresceram mais do que o anteriormente divulgado em 2006. O IBGE revisou de 8,7% para 10% a expansão da formação bruta de capital fixo no ano passado. Só isso, pelas estimativas da LCA Consultores, já elevaria o crescimento potencial do PIB (ou seja, o limite no qual, estima-se, o ritmo de expansão da economia não levaria a pressões inflacionárias) para 4,1% no ano passado. A consultoria calcula que, neste momento, esse PIB potencial tenha subido para 4,7%.

A Wurth do Brasil, braço da multinacional alemã homônima, especializada em peças de fixação, ferramentas e produtos químicos, ajuda a ampliar o volume de investimentos no país. Depois de comprar duas empresas este ano, a Wurth planeja adquirir mais duas unidades de produção no ano que vem. Assim, vai suspender a importação de ferramentas para produzi-las no Brasil:

- Vamos investir no mínimo R$200 milhões. Conseguimos aumentar nosso faturamento em 30% este ano. É a subsidiária Wurth que mais tem crescido no mundo. Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é a prioridade da empresa - disse César Alberto Ferreira, presidente da Wurth do Brasil.

Com faturamento anual de R$300 milhões e 2.500 empregados, a Wurth pôde verificar nas encomendas o quanto seus clientes também têm investido para aumentar a produção.

- Trabalhamos com ferramentas, parafusos e produtos químicos. Itens mais usados na implantação de máquinas - diz Ferreira.

A alta de 14,4% registrada pelos investimentos no PIB reflete a redução dos juros básicos da economia brasileira - a Taxa Selic, que era em média de 11,5% ao ano no terceiro trimestre de 2007, estava em 14,6% no mesmo período do ano passado - e o avanço de mais de 25% no volume de financiamento para as empresas. A taxa surpreendeu os analistas. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, previa uma expansão de 8,8% nos investimentos.

Segundo José Ronaldo Souza Júnior, economista do Ipea, com o aumento da importação de máquinas e equipamentos, é de se esperar melhora na produtividade da economia:

- A modernização deve gerar um ambiente mais favorável, com a indústria crescendo acima do esperado - diz o economista.

Volume de investimentos equivale a 18,3% do PIB

No total, a economia brasileira destinou R$118,3 bilhões a investimentos no terceiro trimestre de 2003. É o equivalente a 18,3% do PIB. Com isso, a taxa de investimento ficou no maior patamar para um terceiro trimestre desde 2000, quando teve início a atual série histórica do IBGE para esse indicador. Já a taxa de poupança ficou em 19,4%, abaixo dos 20,1% registrados no terceiro trimestre do ano passado.

- A poupança diminuiu porque o consumo cresceu mais que a renda. Em termos nominais, o consumo aumentou 9,7%, contra 8,8% da renda. Com isso, sobraram menos recursos para a poupança - diz Claudia Dionisio, da coordenação de Contas Nacionais do IBGE.