Título: Madeira: antecipação permite preço baixo
Autor: Tavares, Mônica; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 13/12/2007, Economia, p. 34

BRASÍLIA. Para compensar a baixa tarifa oferecida às distribuidoras, o consórcio Madeira Energia vai antecipar o início da operação da hidrelétrica Santo Antônio. O objetivo é vender, em 2012, seis meses de energia somente no mercado livre, em que os preços são determinados por oferta e demanda. Se conseguir cumprir a meta, a empresa acabará antecipando todo o cronograma restante das obras e poderá vender a quem quiser, pelo custo que decidir, toda a energia gerada que exceder as obrigações contratuais. Em tese, até 2016.

Para o governo, esse foi o grande segredo do grupo capitaneado por Odebrecht e Furnas. Isso porque embutiu na engenharia financeira uma rentabilidade mais elevada.

- Estão falando conosco que vão antecipar todos os processos e entrar com energia antes. Isso pode ser um dos fatores que levaram a ter valores tão competitivos. Eles sinalizam que, até o fim do primeiro semestre de 2012, entrarão com energia do Madeira - disse o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner.

Pelo edital, as primeiras duas turbinas têm que entrar em funcionamento até dezembro de 2012, num total de 143,2 megawatts (MW) de capacidade instalada. O leilão de energia nova (de empreendimentos a serem construídos) feito com a licitação da obra só vendeu eletricidade para entrega a partir dessa data.

Portanto, uma antecipação deixa o empreendedor sem compromisso de entrega firme nesse período. Em outras palavras: o que produzir é dele. Cada turbina equivale ao abastecimento de 350 mil casas. Em janeiro de 2008, o consórcio já entrará com o pedido de licença ambiental.

- Eles têm uma forte intenção de antecipar a entrada da usina e isso dá uma diferença no fluxo de caixa - afirmou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

Quanto ao pedido das grandes empresas de que, no leilão da hidrelétrica de Jirau, 50% da energia sejam destinados ao mercado livre, Tolmasquim disse que a questão ainda será decidida pelo governo.

Tolmasquim disse que o governo poderá licitar a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte (Pará) no fim de 2009, se conseguir aprovar o licenciamento ambiental no primeiro semestre de 2008. Caso isso não aconteça, o leilão ficará para 2010.

Na avaliação de Mauro Arce, ex-secretário de Energia de São Paulo (na época do racionamento), o preço do leilão ainda ficou mais baixo do que o das licitações realizadas entre o fim de 2004 e janeiro de 2005. Para ele, o leilão foi montado para garantir preços mais baixos para o mercado cativo (residencial), porque estes contratos que vão vencer nos próximos anos são justamente das distribuidoras, que representam 80% do mercado total do país. (Mônica Tavares)