Título: Morales ameaça com uso da força
Autor:
Fonte: O Globo, 13/12/2007, O Mundo, p. 37

Governo boliviano muda o tom e envia tropas a Santa Cruz para evitar divisão do país.

LA PAZ e SANTA CRUZ DE LA SIERRA

Depois de apelar para uma trégua de fim de ano, o governo boliviano mudou o tom de seu discurso ontem e agora ameaça "usar a força de forma legal" para garantir a unidade da Bolívia e evitar que os processos unilaterais de autonomia nos departamentos (estados) mais ricos dividam o país. Segundo o ministro da Casa Civil, Alfredo Rada, a falta de acordo pode resultar em uma ação enérgica de La Paz. Sob protestos da oposição, o governo enviou ontem cerca de 400 homens para Santa Cruz para "garantir a segurança das instituições".

- Se as iniciativas democráticas falharem é porque (os opositores) não querem o diálogo mas somente a confrontação. Se não desejarem a pacificação nacional e continuarem a atentar contra a unidade nacional, seguramente as instituições de força legal e constitucional vão atuar - afirmou o ministro.

Os quatro departamentos mais rico do país - Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija - da chamada Meia Lua, já iniciaram processos para o estabelecimento unilateral de autonomias, que na prática funcionarão como constituições paralelas. Eles prometem declarar autonomia no próximo sábado, com a conclusão de seus estatutos, que deverão ser submetidos a referendos populares. As regiões também já declararam que vão rejeitar a nova Constituição aprovada pela Assembléia Constituinte. Os governadores de Cochabamba e La Paz, que também são de oposição, ameaçam seguir o mesmo caminho.

Radicais ocupam prédios públicos

Segundo o porta-voz da Presidência, Alex Contreras, o governo ainda quer o diálogo mas está reforçando a segurança na Meia Lua para "garantir o respeito às instituições e o patrimônio do Estado."

- O governo ainda acredita em uma solução negociada, mas se prepara para garantir de todas as formas a lei e o estado de direito - disse o porta-voz.

Nos departamentos opositores, cerca de 460 pessoas estão em greve de fome em protesto contra a nova Constituição. De acordo com a imprensa local, alguns prédios públicos de Santa Cruz foram tomados por radicais separatistas. Emissoras da TV mostraram imagens de jovens radicais espancando um indígena acusado de pertencer ao Movimento ao Socialismo (MAS), do presidente Evo Morales. Segundo o líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic, o governo central está militarizando a região.

- Querem nos impor à força suas mudanças. Mas não vamos nos render, seguimos com nossa disposição de garantir a autonomia. O governo já mandou 400 homens para a região e, provavelmente até sábado, estaremos em um departamento militarizado - afirmou Branko, que está em greve de fome há uma semana.

Anteontem, dois documentos divulgados pelos Estados Unidos e por países da América Latina respaldaram o governo de Evo Morales, a unidade da Bolívia e conclamaram a oposição a dialogar e a evitar o confronto. Segundo analistas, o pronunciamento da comunidade internacional tem como objetivo legitimar o governo de La Paz caso os oposicionistas tentem a independência de fato.

Segundo o Comitê Cívico de Tarija, região que possui as maiores reserva de gás e petróleo do país, o governo de La Paz também já enviou reforços para o departamento, apesar dos assessores de Morales não confirmarem.

Hoje, o governo central deve promover uma grande manifestação nas ruas de La Paz em favor da nova Constituição e da unidade do país. O vice-presidente da poderosa Confederação de Povos Indígenas do Oriente da Bolívia (Cidob), Pedro Nuñez, conclamou a população a participar e, se for preciso, a lutar pela Bolívia:

- Não permitiremos que concluam o golpe que planejam.