Título: EUA: Chávez enviou dinheiro para os Kirchner
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/12/2007, O Mundo, p. 38

Justiça prende em Miami 3 venezuelanos envolvidos no caso da mala e diz que US$790 mil eram para campanha de Cristina

WASHINGTON. As especulações sobre o destinatário de uma mala com US$790 mil, apreendida em mãos de um empresário venezuelano no aeroporto Ezeiza, em Buenos Aires, em agosto, aparentemente terminaram ontem. O dinheiro, como se suspeitava, era uma contribuição para a campanha eleitoral da esposa do então presidente argentino, Néstor Kirchner, e fora enviado pelo governo de Hugo Chávez, segundo revelou ontem a Justiça americana.

- O dinheiro era para ajudar a campanha presidencial de Cristina Kirchner - afirmou o promotor-assistente Tom Mulvihill, da Corte Federal do Sul da Flórida, em Miami.

Ele faz parte da equipe de promotores que ontem apresentou ao tribunal três venezuelanos - Moisés Maionica, Franklin Durán e Carlos Kauffmann - e o uruguaio Rodolfo Edgardo Wanseele Paciello, presos na noite anterior, como agentes clandestinos da Venezuela nos EUA. Um quinto homem, o venezuelano Antonio José Canchica Gomez, que faz parte do grupo, continua sendo procurado pelo FBI, a polícia federal dos EUA.

Todos foram indiciados por "combinar, conspirar, formar quadrilha e concordar entre si e com outros indivíduos para cometer uma ofensa contra os Estados Unidos: agir no país como agentes de um governo estrangeiro, especificamente a República Bolivariana da Venezuela, sem notificação prévia ao Procurador-Geral dos EUA, como exige a lei" - segundo o documento apresentado à corte.

O FBI os buscava como agentes ilegais já tendo em mãos uma de suas ações no país: a de terem pressionado, através de ameaças, o empresário Guido Alejandro Antonini Wilson, residente em Fort Lauderdale, a transportar o dinheiro para a Argentina "escondendo a verdadeira natureza" da operação: a origem do dinheiro e o propósito de tal pacote. Wilson, que é venezuelano, também é cidadão dos EUA.

Segundo os promotores, os acusados disseram a ele que a missão era de conhecimento do gabinete do vice-presidente da Venezuela, do DISIP (o serviço de inteligência daquele país) e de um alto funcionário do seu Ministério da Justiça.

Chanceler acusa Washington de orquestrar escândalo

Depois que o dinheiro foi confiscado, um dos agentes, Maionica, comunicou a Wilson que a PDVSA - a petroleira estatal venezuelana - pagaria todas as despesas e penalidades financeiras que ele enfrentaria na tentativa de recuperar os US$790 mil, desde que ele não revelasse a origem do dinheiro. Papéis falsos lhe seriam fornecidos para justificar aqueles fundos.

Kauffmann e Duran, definidos pelos promotores como venezuelanos ricos que vivem no sul da Flórida, também agiam ilegalmente como agentes de Chávez. Ambos teriam dito a Wilson que se ele não colaborasse a vida de seus filhos estaria em risco.

Depois que as autoridades argentinas confiscaram os US$790 mil que ele levara para Buenos Aires, num jatinho em que viajavam mais sete pessoas, entre eles alguns funcionários da PDVSA, Wilson foi dispensado e voltou à Flórida. Ele está cooperando com a Justiça americana, e não é acusado nos EUA.

Em Caracas, o chanceler Nicolás Maduro acusou Washington de orquestrar o escândalo para prejudicar as relações entre governos sul-americanos:

- Não restam dúvidas. Mostrou-se a mão que estava por trás da campanha em torno da famosa mala, o que denunciamos como uma emboscada.

Em Buenos Aires, o porta-voz da Presidência disse que não tinha informações sobre a acusação da Justiça americana. Já a oposição quer que as investigações sejam ampliadas.

- Vamos solicitar à Justiça que peça declarações dos detidos - disse Adrián Perez, da Coalizão Cívica.