Título: Fujimori nega ter ordenado massacre
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Fonte: O Globo, 13/12/2007, O Mundo, p. 38

Ex-presidente peruano diz que desconhecia existência de esquadrão da morte.

LIMA. O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori negou ontem que conhecesse a existência de um grupo militar que executou 25 pessoas durante o seu governo, defendendo-se vigorosamente no julgamento por violação dos direitos humanos. Fujimori é acusado de homicídio qualificado, assassinato e lesões graves ao supostamente avalizar o massacre de suspeitos de pertencerem ao grupo guerrilheiro Sendero Luminoso e os seqüestros de um jornalista e um empresário. Ele pode ser condenado a até 30 anos de prisão.

Na véspera, em outro processo, Fujimori foi condenado a seis anos de detenção por abuso de poder, na invasão da casa da mulher do ex-assessor Vladimiro Montesinos, em 2000, em busca de gravações que poderiam incriminá-lo.

Ao contrário de segunda-feira - quando se exaltou afirmando aos gritos que era inocente e teve uma crise de hipertensão -, Fujimori se mostrou sereno, embora eloqüente, detalhando sua política contra a guerrilha.

- Nunca dei ordens. O que dei foram diretrizes.

Segundo a promotoria, Fujimori deu aval ao grupo Colina, que executou 15 pessoas em 1991, em Barrios Altos. O mesmo grupo executou em 1992 dez pessoas em La Cantuta.

Ao ser perguntado pelo promotor se sabia da existência do grupo, o ex-presidente afirmou:

- Posso lhe dar uma resposta clara e indubitável: Não, nunca, jamais.

As sessões acontecem num quartel em Lima, onde o ex-presidente está preso desde que foi extraditado do Chile, em setembro. Fujimori, que governou o Peru por dez anos, fugiu para o Japão em 2000, em meio a acusações de corrupção, e retornou há dois anos ao Chile.

"Sou inocente!" e "Por que não se cala?" no celular

Segundo a promotoria, o Colina atuava sob ordens de Montesinos, braço-direito de Fujimori. Perguntado se assinara uma carta felicitando militares - entre eles integrantes do grupo -, o ex-presidente reconheceu sua letra, mas disse não se recordar do documento. A carta tem data anterior aos massacres e é uma das provas apresentadas pela promotoria para afirmar que Fujimori estava a par das atividades do Colina. O ex-presidente negou que tivesse uma relação de amizade com Montesinos, dizendo que havia "um vínculo hierárquico". Fujimori enfrenta outro processo, acusado de dar US$15 milhões a Montesinos.

A julgar por uma montagem que circula na internet, os peruanos não acreditam em sua inocência. Um internauta converteu a frase "Sou inocente!", dita segunda-feira, em toque de celular, seguida pela famosa "Por que não se cala?", do rei Juan Carlos, da Espanha (no desentendimento com o presidente venezuelano, Hugo Chávez). A montagem é acompanhada pelo tema que Fujimori usou na campanha eleitoral de 2000.

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