Título: Aécio diz que derrota é sua e de Serra
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 10

FH: "picuinhas" entre governo e oposição devem ser deixadas de lado.

BELO HORIZONTE, SÃO PAULO E PORTO ALEGRE. O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), um dos defensores da CPMF, ao lado do governador de São Paulo, o também tucano José Serra, assumiu ontem parte da derrota. Os dois tentaram convencer os senadores do PSDB a aprovar a prorrogação do tributo. Para Aécio, a derrota do governo também pode ser computada a ele e ao colega paulista. Já Serra preferiu não avaliar o resultado e disse que o importante é resolver o problema do financiamento da saúde. O ex-presidente Fernando Henrique, que trabalhou para que a bancada rejeitasse a CPMF, afirmou, em nota, que governo e oposição devem "deixar de lado as picuinhas".

- Talvez (a derrota foi) minha, dele (José Serra), da saúde. Não sei. Caberá ao tempo avaliar. Sempre tive uma posição muito clara em relação à minha preocupação com os investimentos na saúde. Acho que ainda temos condições de ampliá-los. Vamos aguardar o tempo - disse Aécio.

Aécio defende o ministro Guido Mantega

Aécio defendeu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, um dos responsáveis pela negociação com os senadores:

- Todos nós podemos ter errado em algum momento, mas ele (Mantega) fez um esforço grande nas negociações. Fez concessões importantes. Talvez num timing um pouco tardio. O importante agora é que haja uma sinalização clara do governo e do Senado, sem ressentimentos, para construírem uma outra alternativa. A oposição está disposta a conversar com o governo, e a expectativa é que essa negociação aconteça o mais rápido possível.

Serra se recusou ontem a comentar o comportamento da bancada do PSDB no Senado na votação.

- A essa altura, não estou tão preocupado porque as coisas aconteceram do jeito que aconteceram até agora. Importante é pensar para a frente. Como vamos equacionar o assunto da saúde. Não vou fazer avaliações internas, de natureza partidária. Tenho minhas avaliações, mas vou guardá-las - disse o governador paulista, que esteve na capital gaúcha para assinar convênios de cooperação com o Rio Grande do Sul.

Para Serra, não deve haver cortes nos repasses financeiros do governo federal:

- Espero que ninguém perca nada. Pois o gasto público de melhor qualidade é feito pelos estados, porque é tudo relacionado com investimento. Mas é precipitado falar antes de o governo federal apresentar qual é a proposta.

FH: "Cidadania cansou de pagar tributos"

Criador da CPMF e hoje defensor de sua extinção, Fernando Henrique afirmou ontem, em nota, que "a cidadania cansou de pagar tributos" e que, agora, governo e oposição "devem deixar de lado as picuinhas" para fazer as reformas tributária e fiscal:

"Olhando para a frente, o mais importante a salientar é que chegou a hora de colocar, na ordem do dia, a reforma tributária (e fiscal, porque não se pode discutir a receita sem debater o gasto). É o momento de governo e oposição, pensando no Brasil, deixarem de lado as picuinhas e se concentrarem na análise e deliberação do que é necessário fazer para, ao mesmo tempo, ainda que com gradualismo na implementação, conciliar os dois lados de uma só e mesma equação: de uma parte, aliviar a carga tributária e melhorar a qualidade do nosso sistema tributário, para aumentar a capacidade de crescimento do país; de outra, assegurar recursos para a saúde e as demais áreas sociais, não apenas no nível federal, mas, sobretudo, no nível estadual, como demandam, com razão, os governadores", diz a nota divulgada pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso.

O ex-presidente, no entanto, não deixou de comemorar a vitória sobre o governo:

"A decisão do Senado sobre a CPMF foi importante para repor em termos mais adequados a relação entre Executivo e Legislativo, bem como para mostrar que, em qualquer democracia digna deste nome, a oposição, ao votar contra uma proposta do governo, não fecha os olhos ao interesse nacional. A oposição deixou isso claro ao ajudar na aprovação da DRU (Desvinculação dos Recursos da União) e manifestar disposição para retomar as negociações com o governo no futuro imediato".