Título: Governo está dividido e fechado para balanço
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 10

A VIDA SEM CPMF: "Vamos avaliar com frieza a melhor linha", diz o líder Romero Jucá, sobre uma saída política. Grupo defende tentativa de retomada do diálogo com o PSDB e recriação do tributo em 2008, mas ordem é cautela

BRASÍLIA. No primeiro dia após ser derrotado na tentativa de aprovar a CPMF, o governo estava dividido sobre a conveniência de retomar as negociações no início do próximo ano para recriar a CPMF. Apesar da resistência de alguns ministros e até mesmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um grupo mais pragmático avaliava ontem que a melhor solução para diminuir o prejuízo com o corte de R$40 bilhões no próximo ano seria retomar o diálogo com a oposição para votar a matéria até março.

A contabilidade mais realista identificava que a aprovação da CPMF em 2008 poderia representar a recuperação de pelo menos R$20 bilhões para o Tesouro. Mas, apesar das negativas oficiais, emissários do Palácio do Planalto consultaram na madrugada de ontem caciques tucanos sobre a possibilidade de retomar as negociações. Logo após perder a votação, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, telefonou para o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), com o seguinte recado: o governo desejava continuar conversando com os tucanos.

Mas a ordem no Planalto é de cautela. Primeiro o governo vai avaliar todos os cenários e vai optar pelo que for mais conveniente. Há quem defenda o debate de uma reforma tributária mais ampla, em vez de tentar recriar a CPMF.

- Estamos fechados para balanço. Vamos avaliar com frieza a melhor linha para o governo do ponto de vista econômico e político - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Base aliada também dividida

Até na base aliada, a possibilidade de retomar ou não as negociações da CPMF dividem opiniões. Para o senador Delcídio Amaral (PT-MS), a melhor opção seria acabar de vez com a CPMF e iniciar imediatamente o debate para fazer uma reforma tributária:

- Temos que tomar medidas necessárias para conseguir acomodar o orçamento sem os recursos da CPMF. Mas, depois, será melhor iniciar a reforma tributária. Seria um erro do governo tentar recriar a CPMF.

Para o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), o governo deve tentar recriar a CPMF. Mas só se conseguir um consenso com a oposição.

- Temos que deixar passar a ressaca para, em janeiro, voltar a discutir o assunto. Temos que avaliar o impacto da ausência da CPMF. Se houver um consenso, devemos retomar o diálogo entre governo e a oposição. Deve prevalecer o bom senso - disse Zambiasi.

Ontem, a oposição demonstrou disposição para negociar as propostas do governo, mas condicionando a um debate de mérito.

- Estamos abertos a negociar as propostas do governo, inclusive um novo debate sobre a CPMF. Mas será uma negociação de mérito - observou a senadora Marisa Serrano (MS), vice-presidente do PSDB.

Em Belo Horizonte, o governador Aécio Neves (PSDB) defendeu a retomada do debate para a recriação da CPMF.

- Espero que possa haver agora a serenidade e tranqüilidade para que um entendimento entre o governo federal e o Senado da República possibilite a garantia do financiamento da saúde e o seu alargamento a partir do próximo ano, mesmo com uma noventena, um interregno, na cobrança.