Título: Fui usado? Pode ser, mas a causa era muito boa
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 11

A VIDA SEM CPMF: "Não pedi para ninguém votar a favor"

Senador diz que oposição deveria ter analisado proposta.

Foi uma quarta-feira difícil para o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Considerado pouco confiável pelo Planalto, amargou uma derrota imposta pelo governo, que garantiu a eleição do adversário Garibaldi Alves (PMDB-RN) para a presidência do Senado. De madrugada, sua história, idade e credibilidade, então desprezadas na disputa, foram usadas pelo governo para tentar uma manobra e adiar a votação. Angustiado com a péssima repercussão do episódio em que, na última hora deu um show de governismo, envolveu-se num bate-boca com a oposição e acabou agredido verbalmente, ontem ele admitiu que pode ter sido usado para sensibilizar o plenário nos momentos que antecederam a votação da CPMF.

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA

Um dia depois de ter tido seu nome vetado pelo presidente Lula na disputa pela sucessão no Senado, o senhor tomou para si uma responsabilidade que seria do líder do governo, ao fazer um apelo ao plenário para que fosse adiada a votação da CPMF. Por que o senhor fez isso?

PEDRO SIMON: Depois da eleição do Garibaldi, eu fiz um desabafo dizendo que o presidente Lula tinha obrigação de vir a público para dizer porque eu não era confiável. Nós éramos muito amigos até que aconteceu o problema da corrupção no seu governo (referindo-se ao caso de Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil flagrado em gravação pedindo propina). Eu estava machucado, no chão. Mas aí chegou aqui, às dez da noite, uma proposta do governo garantindo que os R$40 bilhões da CPMF iriam para a saúde, que o imposto só seria prorrogado por um ano e que neste ano faríamos a reforma tributária. Isso é o que queremos desde a Constituinte. Se, com a faca no pescoço, o governo vem e se entrega, eu tive de colocar o meu país acima de tudo. Deixei minha mágoa de lado. Não pedi para ninguém votar a favor, mas para adiar por dez horas a votação para analisarmos a proposta.

Foi o governo quem deixou para a última hora...

SIMON: Última hora, não. Foi depois da hora, porque a votação estava marcada para terça-feira, depois adiaram para a quarta-feira e, mesmo assim, a proposta só apareceu às dez da noite. O governo errou. É um absurdo o que ele fez, é ridículo! Nota zero para o governo. Mas, mesmo atrasado, ele apresentou uma proposta. Nós tínhamos de nos agarrar na proposta para encontrarmos uma saída.

Há quem ache que o governo usou a história e a biografia do senhor para tentar sensibilizar o plenário, já que não tinha condições de fazer um apelo para adiar a votação.

SIMON: Eu concordo, eu entendi assim. Mas aceitei, esqueci a minha mágoa porque a proposta era boa. Voltei hoje (ontem) para a tribuna. A matéria caiu, mas quero saber se o governo estava sendo sincero e vai mesmo levar adiante essa idéia de aprovar uma reforma tributária no próximo ano, até porque o governo ficou sem esse dinheiro e está apavorado. Vamos conversar e discutir se, nos meses de janeiro e fevereiro, poderemos fazer uma convocação extraordinária do Congresso só para fazer essa reforma.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) criticou de maneira dura sua iniciativa, e o senhor mesmo admitiu que já recebeu vários e-mails de eleitores condenando sua postura.

SIMON: Estou acostumado com isso. Ao longo da minha vida, como quando eu não fiquei ao lado de (Leonel) Brizola na guerrilha, nem aderi ao movimento revolucionário para derrubar o governo, também fui criticado. Mas sou de tomar as posições que acho importantes para o meu país. Tem gente que pode não ter entendido minha atitude, depois de eu ter tomado a paulada que tomei do governo. Fui usado? Pode até ser. Mas eu pensei naquilo que fiz, e a causa era muito boa.