Título: Traições na base provocam derrota do governo
Autor: Vizeu, Rodrigo
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 14

A VIDA SEM CPMF:O presidente em exercício, José Alencar, nega que vá haver punições contra os governistas infiéis

Seis senadores aliados votaram contra a prorrogação da CPMF, enquanto a oposição conseguiu garantir a fidelidade

BRASÍLIA. Foram as traições dentro da própria base aliada que definiram a derrota do governo na rejeição da CPMF, na madrugada de ontem. Apesar das investidas do governo para rachar os adversários, a oposição não registrou defecções e votou unida contra a prorrogação do tributo. O PSDB, pressionado até o último instante, garantiu a duras penas o voto contrário de todos os 13 senadores. Na bancada do DEM, até os indecisos Jayme Campos (MT) e Jonas Pinheiro (MT) seguiram a orientação do partido.

Formada por 14 partidos e 53 senadores, a bancada aliada só deu ao governo 45 votos. Ou seja, seis traíram o Planalto e se juntaram à oposição - o presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), só votaria em caso de empate, e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) faltou à sessão. O maior número de traições foi no PMDB - Jarbas Vasconcelos (PE), Mão Santa (PI) e Geraldo Mesquita (AC). No PR, votaram contra César Borges (BA) e Expedito Júnior (RO). No PTB, Romeu Tuma (SP) cumpriu a promessa de barrar a CPMF. No caso de Tuma e Borges, pesou a decisão do Supremo Tribunal Federal que estabeleceu a fidelidade partidária. Eles preferiram seguir o antigo partido (DEM) e não correr o risco de sofrer processo de perda de mandato.

No PDT, Osmar Dias (PR) mudou de idéia na última hora e votou a favor. O mesmo aconteceu com Valter Pereira (PMDB-MS). O presidente em exercício, José Alencar, negou punições contra os governistas infiéis:

- Isso não é marca do nosso governo, que respeita o próximo - disse.

Expedito Júnior: "Espero que não haja retaliação"

O senador Expedito Júnior, que votou contra a orientação do partido e do governador de seu estado, Ivo Cassol, reclamou da articulação política do governo, que, segundo ele, mantém aliados "de primeira, segunda e terceira categorias":

- Espero que não haja retaliação. O governo errou no encaminhamento das articulações e tem que restabelecer as pontes de negociação com o Senado.

Para a líder do PT e do bloco de apoio ao governo no Senado, Ideli Salvatti (SC), a votação da CPMF serviu para mostrar qual é a base governista real. Ela insistiu que a situação atual é melhor do que a do primeiro mandato de Lula:

- Não temos base para votar PECs (que precisam de três quintos do Senado), mas essa base nos dá governabilidade para votar muitas matérias.

Já na votação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), foi a vez das traições na oposição. A pouca convicção dos oposicionistas (DEM e PSDB chegaram a liberar as bancadas) fez com que cinco tucanos e oito democratas votassem com o governo. Na base aliada, apenas os peemedebistas Jarbas, Mão Santa e Geraldo Mesquita repetiram o voto contrário.

(*) Do Globo Online