Título: Será fundamental que o governo corte gastos
Autor: Novo, Aguinaldo; Aggege
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 16

Tributaristas defendem fim do tributo e dizem que não há necessidade de aumento de impostos.

SÃO PAULO. O jurista e tributarista Ives Gandra Martins afirmou que o fim da CPMF foi uma vitória do povo brasileiro, e não necessariamente será uma tragédia para o governo, desde que as despesas com a administração sejam cortadas. Ele frisou que o cenário mundial, afetado principalmente pela crise imobiliária americana, poderá impedir um bom desempenho econômico do Brasil em 2008:

- Não digo que teremos uma crise, mas há nuvens no céu. Será fundamental que o governo se concilie com a iniciativa privada e que corte seus gastos, principalmente com cargos, que consome já R$130 bilhões. E 47% dos comissionados são sindicalistas, não especializados em governo. Não precisa cortar Bolsa Família, que responde só por 1,5% (R$9,6 bilhões) do Orçamento. Mas, se cortar mordomias e cargos, em vez de querer aumentar a máquina, é muito possível administrar bem.

O tributarista frisa que o governo pode tomar outro caminho, mais lesivo à população:

- O presidente pode aumentar quatro impostos por decreto, se quiser, já em janeiro. Infelizmente, a sensação que tenho é que apostará em ampliar um dos impostos - disse Gandra, referindo-se ao IOF, IPI e aos impostos de importação e de exportação.

Segundo cálculos do tributarista Ilan Gorin, da Gorin Auditoria Contábil, não há necessidade de aumento de tributos. Isso porque o crescimento da arrecadação até outubro já é superior à CPMF arrecadada no mesmo período. Nos dez primeiros meses do ano, a arrecadação federal foi de R$353 bilhões, contra R$317 bilhões no mesmo período em 2006, ou seja, alta de R$36 bilhões. Já a CPMF no mesmo período rendeu aos cofres públicos R$30 bilhões.

- Se não houvesse a CPMF, a arrecadação de 2007 já seria 1,9% maior que a registrada em 2006 - disse o tributarista.

Tributarista diz que é hora de promover reforma

O tributarista Igor Mauler Santiago, sócio do Sacha Calmon-Misabel Derzi Consultores e Advogados, avaliou que, com a derrota, o governo poderia promover a tão protelada reforma tributária. Em termos de arrecadação, a perda tende a ser compensada em parte pelo crescimento econômico, que está na base dos sucessivos recordes de arrecadação da Receita Federal.

- Economicamente, trata-se do fim de um tributo praticamente único no mundo, que onera de forma difusa a cadeia produtiva e que não tem como ser desonerado nas exportações de produtos e serviços - disse.