Título: Trabalhador ganha até 9 dias de trabalho por ano
Autor: Novo, Aguinaldo; Aggege
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 16

A VIDA SEM CPMF: Segundo o instituto, custos de empréstimos e preço de produtos e serviços poderão ser reduzidos

Com fim do tributo, quem recebe até R$500 por mês terá um ganho extra de 2,4%, segundo estudo do IBPT

SÃO PAULO. Um taxista tem de trabalhar, em média, nove dias no ano apenas para pagar a CPMF. Serralheiros e mecânicos gastam seis dias e funcionários públicos, quatro dias por ano. Esses dados constam do estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

A mordida do imposto do cheque junta diferentes categorias profissionais. Assim como serralheiros e mecânicos, profissionais qualificados do setor de saúde (como médicos, dentistas e psicólogos) e de ciências humanas (advogados e contadores) também precisam trabalhar seis dias no ano para arcar com a cobrança. Ainda segundo a relação elaborada pelo IBPT, aparecem vendedores autônomos (sete dias), engenheiros e arquitetos (cinco dias) e funcionários de empresas privadas (três dias).

Para o presidente da entidade, Gilberto Luiz do Amaral, a derrubada da CPMF pelo Senado cria um ambiente propício e fértil para a discussão de uma reforma tributária:

- Durante a tramitação do projeto, demonstramos, em uma linguagem clara e objetiva, os reflexos nefastos da CPMF na sociedade brasileira. Como o que representa em dias de trabalho e no preço final das mercadorias e serviços.

Mais pobres terão aumento da renda bruta

Amaral disse que houve o que chamou de "mudança no posicionamento" dos parlamentares, que passaram a discutir tecnicamente o tributo e os reflexos econômicos de sua incidência:

- Agora, realmente acredito que os debates sobre a reforma tributária avançarão, pois o governo federal passa a ter interesse em uma mudança do sistema tributário brasileiro. Vamos aproveitar a oportunidade para discutir outros tributos injustos.

A extinção da CPMF, a partir de 1º de janeiro, representará um aumento de renda bruta para os brasileiros mais pobres, segundo o IBPT. Segundo o estudo do instituto, cada cidadão que ganha menos de R$500 por mês terá um ganho extra de 2,4% do salário bruto a partir de janeiro, quando o imposto do cheque será extinto. Em média, todos os brasileiros ganharão 1,9% sobre a renda bruta. O estudo revela ainda que, além do aumento na renda, o trabalhador terá barateamento nos créditos bancários, de 0,38%, e possivelmente uma redução nos preços de produtos de consumo e serviços.

- Em média, cada família de quatro pessoas economizará R$630 por ano sem a CPMF. O fim da CPMF produzirá um aumento do rendimento, principalmente de quem tem menor renda, além da redução dos custos dos empréstimos. Além disso, os setores produtivos poderão excluir os valores nos preços finais- afirmou Amaral.

Na avaliação do presidente do IBPT, o governo também não perderá arrecadação em 2008, como tem afirmado. Na ponta do lápis, o aumento real na arrecadação será de R$50 bilhões, se forem cumpridas as estimativas de crescimento, de acordo com Amaral.

Em 2007, a Receita arrecadou R$595 bilhões (excluídos FGTS e INSS). Para 2008, a projeção era de R$700 bilhões, considerados R$40 bilhões do imposto do cheque. Dos R$660 bilhões atualizados para 2008 (sem a CPMF), serão excluídas ainda as perdas inflacionárias estimadas, de R$15 bilhões. Ou seja, a arrecadação deve ser estimada em R$645 bilhões, ou seja, R$50 bilhões a mais que em 2007.

- Se o governo souber racionalizar suas despesas, cortando gastos administrativos, não teremos problemas - avaliou Amaral.