Título: Gastos públicos no Brasil superam média mundial
Autor: Melo, Liana; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 14/12/2007, O País, p. 18

A VIDA SEM CPMF: Especialistas defendem Estado menor.

Para economistas, saída é país cortar suas despesas.

Ficou evidente que o governo não tinha um plano B para uma provável derrota da proposta de prorrogação da CPMF. Os próximos passos que serão dados para pôr fim à crise passaram a ser a maior das preocupações dos economistas que, em uníssono, defendem a redução das despesas correntes do governo. Eles alegam que existe gordura suficiente para cortar, já que esses gastos superam a média internacional.

Estudo de Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, indica que esses gastos representam 20% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo país) contra uma média mundial de 16,6%. O Brasil gasta mais que Rússia, Índia e China, que juntos compõem o Bric. Nesses países, os gastos públicos representam 17,6%, 11,8% e 12,9%, respectivamente. Se a comparação for com os vizinhos, ainda assim o Brasil está na frente.

- A verdadeira causa do crescimento econômico baixo é o tamanho exagerado do Estado - analisa Marinis, comentando que as despesas mais onerosas são o pagamento de salários e de aposentadoria de servidores públicos.

Economistas defendem choque de gestão nos gastos

O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), considera que a derrota foi um susto pedagógico. Ainda que considere que o Brasil tem uma carga tributária elevada e gastos sociais altos, ele teme que, sem a CPMF, o aumento de 27% no orçamento do Bolsa Família, previsto para 2008, fique comprometido. Esses recursos permitiriam um reajuste do benefício e sua ampliação para jovens de 15 a 17 anos.

Mesmo morando fora do Brasil, o economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Princeton, está convencido de que a CPMF é um dos impostos que mais criam distorções econômicas no país.

O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, afirma que o governo não soube negociar a prorrogação da CPMF no Congresso. O estrago só não foi maior, diz ele, porque o governo aprovou a manutenção da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que arrecada R$90 bilhões.

- O governo foi derrotado porque não soube negociar. Ele deveria ter sinalizado a intenção de cortar seus próprios gastos - afirma Camargo, defendendo uma reforma tributária urgente.

Enquanto Scheinkman acredita que a reforma tributária teria a função de racionalizar os tributos no país, Camargo acredita que ela poderia servir para elevar alguns tributos, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Já Armínio Fraga, sócio do Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central (BC), não vê na derrota um grande problema. Ainda que não seja adepto de um governo minimalista, Armínio Fraga é defensor feroz da redução dos gastos públicos:

- O governo deveria estar preocupado em dar um choque de gestão nos gastos públicos e não em manter a CPMF indefinidamente.