Título: Informalidade e carga tributária freiam PIB
Autor: Melo, Liana; Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 14/12/2007, Economia, p. 37

Forte crescimento deste ano não se mantém a longo prazo devido também a infra-estrutura precária, dizem analistas

RIO e SÃO PAULO. A surpreendente expansão da economia no terceiro trimestre - quando o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) avançou 5,7% - pode até proporcionar um crescimento mais vigoroso neste e no próximo ano, mas a elevada informalidade da economia brasileira, os gargalos de infra-estrutura e a alta carga tributária impedem que a tendência se mantenha a longo prazo, afirmam especialistas.

Um dos indicadores mais comemorados na divulgação do PIB anteontem foi a alta recorde dos investimentos, de 14,4%. Entretanto, o Brasil ainda tem uma taxa de investimento (volume de recursos destinados a esse fim em relação ao valor total do PIB) muito baixa, lembra José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio. Segundo o IBGE, está em 18,3%. Camargo lembra que a média, em outros países, é de 24%.

Armínio Fraga, sócio do Gávea Investimento e ex-presidente do Banco Central (BC), faz coro com Camargo na preocupação com a baixa taxa de investimento do país, sobretudo na área de infra-estrutura.

- Não dá para crescer seguidamente 5% ou 6% ao ano sem esbarrar na infra-estrutura, na falta de estrada, de energia - acrescenta Pedro Cavalcanti Ferreira, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Ferreira acredita que o baixo nível de investimentos públicos, que compromete a infra-estrutura, impede avanços maiores do PIB. Mas, no caso do Brasil, a elevada carga tributária é ainda mais prejudicial. Por isso, mesmo que tenha ocorrido de forma atribulada, a eliminação da CPMF é positiva, avalia o economista. Em pesquisa recente, Ferreira estimou em quanto teria sido o crescimento brasileiro entre 1980 e 2000 caso o Brasil tivesse, naquela ocasião, o mesmo nível de carga tributária de 2003. E chegou a conclusão de que a expansão do PIB seria 70% menor só por causa do aperto tributário.

Consumo de máquinas já chega a R$58 bi este ano

Morando fora do Brasil há algumas décadas, José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton, aponta a informalidade como um dos maiores entraves ao crescimento do país. Ao manter distância da economia formal e, conseqüentemente, da fiscalização, as empresas informais acabam se transformando em fontes de ineficiência. Os melhores exemplos são, segundo ele, as empresas de distribuição de alimentos e construção civil.

Se o crescimento de longo prazo ainda não é certeza, o bom momento da economia brasileira aparece com força nos números da indústria de máquinas e equipamentos. Refletindo o bom desempenho dos investimentos no PIB, o setor já registra expansão de 17,2% no consumo aparente (total produzido aqui menos exportação mais importações) este ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Foram R$58,3 bilhões de janeiro a outubro.

- O forte aquecimento do mercado interno está levando a um movimento quase generalizado de investimentos, seja para modernizar ou ampliar capacidade - avalia Sergio Vale, da MB Associados.

Pesquisa mostra 43% das indústrias investindo mais

Só na siderurgia, serão R$23 bilhões nos próximos quatro anos, sem contar a construção de novas unidades.

- Há aumento no consumo de aço em diferentes setores, o que nos leva a acreditar numa forte retomada do mercado interno - disse o vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia, Marco Polo de Mello Lopes.

Pesquisa inédita da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, de 1.594 indústrias de todos os setores, 43% estão investindo mais neste ano do que em 2006, enquanto 37% mantêm os mesmos níveis de investimento.

A expansão das unidades industriais e a explosão do mercado de imóveis residenciais têm garantido o desempenho favorável da construção civil, que deve crescer 7,9% este ano.

- Em 2008, o PIB da construção civil aumentará 10,2% - prevê o presidente do Sinduscon de São Paulo, João Robusti.

Se depender da renda dos trabalhadores, 2008 tem mesmo tudo para repetir os resultados favoráveis de 2007, afirma Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele lembra que, em 2005 e 2006, a renda do trabalho cresceu mais de 16%. Porém, o PIB per capita teve aumento de menos de 4% no mesmo período. Neri acredita que só agora, em 2007, o crescimento da economia está enfim refletindo a melhora do mercado de trabalho nos últimos anos.

- E, em 2007, a população ocupada no Brasil deve aumentar em 2,7 milhões.

COLABOROU Lino Rodrigues.