Título: Células embrionárias: julgamento em fevereiro
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 14/12/2007, Ciência, p. 43

Comunidade científica pressiona Supremo a chegar a um veredito sobre uso em pesquisas.

BRASÍLIA. Lideranças da comunidade científica brasileira estiveram ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) para pressionar a corte a pôr um ponto final na polêmica sobre a proibição do uso de células-tronco embrionárias em pesquisa. Uma ação proposta pelo Ministério Público Federal, em 2005, paralisou os estudos científicos, que podem resultar em tratamentos de doenças degenerativas, como os males de Alzheimer e Parkinson. O ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso, prometeu entregar o seu voto na primeira semana de fevereiro. Depois, os ministros se reunirão para julgar.

O uso de células embrionárias em pesquisas foi regulamento pelo Congresso em 2005, com a aprovação da Lei de Biossegurança. A lei permite a pesquisa com embriões congelados há mais de três anos por clínicas de fertilização. Mas uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, proposta naquele mesmo ano pelo então procurador-geral da República Cláudio Fontelles, pede a proibição das pesquisas.

A coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, Mayana Zatz, que esteve ontem com os ministros, disse que até a manifestação do tribunal as pesquisas continuarão paradas, em função de restrições impostas pelos conselhos de ética de instituições científicas. Segundo ela, os estudos com células de embriões são mais eficazes do que os realizadas com células adultas. Mayana diz que não há divisão na comunidade científica sobre o tema:

- É o futuro da regeneração dos órgãos e tecidos. E hoje estamos de mãos atadas.

A polêmica tem como pano de fundo a discussão sobre o momento exato em que se inicia a vida. Fontelles reproduz o argumento da Igreja: os embriões são seres vivos. Para a comunidade científica, são apenas tecidos vivos.

O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Marco Antônio Raupp, diz que o impasse está retardando as pesquisas:

- Sabe o que vai acontecer? O Brasil tem hoje um bom conhecimento do tema, mas com as pesquisas paradas vamos ter que pagar royalties quando forem descobertas curas para doenças. Nos EUA e na Europa ninguém pára.