Título: Mercosul realiza cúpula na sua pior crise
Autor: Oliveira, Eliane; Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 17/12/2007, Economia, p. 18

Bloco firma com Israel primeiro acordo de comércio com um país não integrante

MONTEVIDÉU. O Mercosul realiza amanhã uma nova cúpula de presidentes mergulhado em seu pior momento. A avaliação é de dois influentes negociadores - um brasileiro e um argentino - que participarão, hoje e terça-feira, das discussões. Sem o tradicional jantar presidencial oferecido pelo país anfitrião, que foi desmarcado pelo presidente Tabaré Vázquez quase às vésperas do evento, a reunião refletirá o clima de tensão que predomina entre os sócios.

A boa notícia do evento é a assinatura do primeiro tratado de livre comércio do bloco com outro país, no caso, Israel. O objetivo é reduzir as tarifas de cerca de quatro mil itens a zero, sendo de alguns produtos agora e de outros em um período de quatro anos ou mais, dependendo do setor.

Entre janeiro e setembro deste ano, as exportações de Israel para o Mercosul alcançaram US$541 milhões. Já as importações de produtos do bloco sul-americano somaram US$551 milhões. O principal parceiro comercial de Israel é o Brasil. Os argentinos, segundo negociadores brasileiros, foram os que mais criaram dificuldades ao tratado, por causa das concessões em produtos industrializados. Para o Brasil, o mais importante no acordo é a abertura do mercado israelense para produtos agrícolas.

A lista de conflitos entre os integrantes do bloco é variada: argentinos e uruguaios continuam em pé de guerra por causa da fábrica de celulose no Rio Uruguai; o governo Vázquez insistirá no pedido de sinal verde para negociar um tratado de livre comércio com os EUA; e a Venezuela redobrará a pressão para acelerar seu processo de incorporação plena ao bloco. Para piorar esse quadro de conflitos, o Brasil, atendendo a uma decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC), anunciará que não vai mais importar pneus reformados de Uruguai e Paraguai, parceiros que há anos se queixam das assimetrias econômicas dentro do bloco.

- Sem dúvida, passamos por nosso pior momento. Nos últimos meses, não deu para avançar em nada - disse uma fonte do governo brasileiro.

Com exceção dos presidentes do Mercosul, incluindo o venezuelano Hugo Chávez, de fora do bloco apenas a presidente do Chile, Michelle Bachelet, confirmou presença, ao contrário de anos anteriores, em que associados como Bolívia, Peru, Colômbia e Equador participavam dos debates e defendiam a integração regional.

Dois fatores explicam esse cenário. Por um lado, as graves crises internas, por exemplo, a da Bolívia. De outro, a negociação de acordos bilaterais de comércio com os Estados Unidos, casos de Colômbia e Peru.

- A não ser que em seus discursos os presidentes anunciem acordos que não estão previstos, avançamos muito pouco. O Mercosul está morno, quase frio - disse o subsecretário de Integração Econômica do governo argentino, Eduardo Sigal.

Na tentativa de melhorar o clima de insatisfação generalizada no bloco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Montevidéu com um discurso voltado para a integração na América do Sul. Ele pedirá paciência à Venezuela quanto à sua adesão ao bloco.

- Lula dirá que devemos persistir no ingresso da Venezuela, mas entendendo que o processo técnico é demorado - disse uma fonte brasileira.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 17/12/2007 03:59