Título: Há luxo e desperdícios para cortar
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 15/12/2007, O País, p. 3

Conta telefônica da União custa R$700 milhões por ano.

Na segunda-feira, o Judiciário será apresentado à "navalha" da Comissão Mista de Orçamento, segundo anuncia seu relator, deputado José Pimentel (PT-CE). Há espaço para cortes nos gastos supérfluos e cotidianos do três poderes. A Justiça, por exemplo, está empenhada na construção de novas e custosas instalações, com obras que devem somar R$1,2 bilhão em cinco anos. Os projetos das sedes, em Brasília, do Conselho da Justiça Federal (CJF), do Tribunal Regional Federal (TRF-1) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são emblemáticos de um ciclo no qual a afirmação de poder se expressa pelo luxo das sedes e pelo tamanho dos gabinetes da cúpula da burocracia judiciária - como mostrou O GLOBO na série de reportagens sobre mordomias, no mês passado. Prevêem-se escritórios para juízes com até 650 metros quadrados - área na qual caberiam quase 11 apartamentos de classe média baixa (60 metros quadrados) em oferta no Rio.

Se a proposta da "navalha" no Orçamento for realmente para valer, há outros gastos passíveis de ajuste, tão simbólicos quanto os suntuosos prédios públicos. É o caso da conta telefônica da União. Em plena era da telefonia barata (via internet), a administração pública gasta mais de R$700 milhões por ano. Essa despesa equivale ao dobro do investimento previsto para este ano no programa Atenção à Saúde para Populações em Situações de Emergência.

Outros R$954 milhões são gastos anualmente para iluminar os prédios públicos federais. É 200 vezes mais que o investimento no programa Luz para Todos. Há, ainda, despesas de R$801,8 milhões por ano na compra, aluguel e manutenção de veículos oficiais, quantia praticamente igual ao gasto com manutenção da malha rodoviária em todo o país.

É grande o espaço para a "navalha". E existe oportunidade política. O problema, agora, é de vontade. E, principalmente, de gestão.