Título: Nós vamos arrumar um jeito
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 15/12/2007, O País, p. 3

A VIDA SEM CPMF

Lula diz que, sem CPMF, não tomará medida irresponsável e que manterá política fiscal.

Lino Rodrigues

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva rompeu ontem o silêncio sobre a derrota da prorrogação da CPMF no Senado e afirmou que o governo não adotará medidas irresponsáveis para compensar a retirada dos R$40 bilhões do imposto do cheque do Orçamento da União. Em São Bernardo do Campo (SP), Lula reforçou o anúncio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que na véspera havia afirmado que o governo vai manter o superávit primário, a política fiscal e a continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O presidente aproveitou para agradecer publicamente o empenho do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que estava a seu lado no palanque e a quem chamou de companheiro, por tentar convencer os senadores a votar pela prorrogação da CPMF:

- Não pensem que o presidente da República ficou prejudicado porque os senadores votaram contra a CPMF, que vai haver alguma medida, do governo, de irresponsabilidade. Nós vamos manter o superávit primário, nós vamos continuar com a política fiscal séria, nós vamos arrumar um jeito de fazer as coisas acontecerem neste país, e o PAC vai continuar - disse Lula em discurso na fábrica da Ford no ABC paulista, onde participou do lançamento de um novo modelo de carro popular, o KA reestilizado.

Mais ataque a senadores, "que não usam o SUS"

Segundo Lula, os senadores que votaram contra a prorrogação da CPMF esperando prejudicá-lo esqueceram que não é mais candidato e que o fim da CPMF irá prejudicar a gestão do próximo presidente da República. Os senadores que votaram contra, disse, não usam o Sistema Único de Saúde (SUS) e vão ter de responder por que a saúde vai perder R$24 bilhões.

- Se alguém votou contra achando que aquilo poderia prejudicar o presidente, poderia saber duas coisas: primeiro, o presidente não é mais candidato; segundo, eles prejudicaram o próximo presidente da República; e terceiro, alguém vai ter que responder por que a saúde deixou de receber R$24 bilhões a mais, ou por que a saúde vai deixar de receber, a partir de 2010, mais R$80 bilhões. Certamente, as pessoas que votaram contra não usam o SUS. Se usassem, elas não votariam contra - disse Lula.

O presidente também reclamou que foi "achincalhado" quando previu, em agosto de 2003, que o país viveria o "espetáculo do crescimento" na economia. De acordo com Lula, a resposta aos que o criticaram está sendo dada agora com a expansão de 5,7% do PIB e da entrada da economia brasileira em "um ciclo duradouro" de crescimento.

- Quando eu falei aqui, em agosto, do espetáculo do crescimento, fui achincalhado durante um ano e não ouvi ninguém fazer pelo menos uma linha de autocrítica para reconhecer que o PIB de 2007 foi de 5,7%, portanto, o maior de muitos anos - lembrou, citando como exemplo o bom momento que vive a indústria automobilística, que deverá fechar 2007 com uma produção 14% maior que no ano passado.