Título: Biblioteca Nacional premia livro sobre Genoino
Autor: Lamego, Cláudia
Fonte: O Globo, 15/12/2007, O País, p. 14

Autora, que foi do PT e tem relações com duas das três juradas, não inclui no texto o escândalo do mensalão.

O livro "José Genoino - Escolhas políticas", sobre o deputado petista José Genoino - um dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal por envolvimento direto no escândalo do mensalão como então presidente do PT -, ganhou o prêmio Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Biblioteca Nacional na categoria ensaio social. A autora, Maria Francisca Pinheiro Coelho, professora de sociologia da Universidade de Brasília, que diz já ter sido filiada ao PT, conheceu Genoino no movimento estudantil e chegou a ser presa, com ele, no Congresso da UNE em Ibiúna. O prêmio, concedido também em outras sete categorias, é de R$12.500.

No júri que escolheu o livro havia pelo menos duas pessoas próximas a Maria Francisca: Maria Angélica Madeira, sua colega no departamento de sociologia da UnB, e Barbara Freitag, com quem editou em 1993 o livro "Marx morreu: Viva Marx!" (Papirus) e sobre quem co-organizou um livro, "Itinerários de Bárbara" (Editora Universidade de Brasília). A terceira jurada foi a historiadora Isabel Lustosa.

Maria Francisca não quis comentar o prêmio e conta que o livro já estava quase pronto em 2002, mas que decidiu ampliá-lo durante o período em que Genoino estava na presidência do PT e que então petistas como Heloísa Helena foram expulsos do partido. Sobre a crise do mensalão, a autora nada escreveu, dizendo que "é um processo que está em julgamento". Ela limitou-se a publicar entrevista com Genoino, na qual ele se defende das acusações:

- Acrescento três entrevistas com ele no fim do livro. Não falo da crise. Dei voz a ele.

Segundo a autora, que começou a produzir o livro em 1997, a obra nasceu de uma iniciativa da UnB de retratar políticos importantes no país. Cristovam Buarque (PDT) e Roberto Freire (PPS) já foram biografados na série. Sobre as possíveis críticas, diz que Genoino foi um personagem importante da história.

- Não é um livro encomendado, não tenho compromisso com a pessoa. A história dele é interessantíssima, é a história de uma época. Ele se entregou a uma causa libertária, foi preso, torturado, e depois se tornou um parlamentar que era considerado uma unanimidade.

Isabel Lustosa diz que Maria Francisca é uma socióloga conhecida e respeitada e que seu livro era conhecido no meio acadêmico, mas foi "atropelado pelos fatos", numa referência à crise do mensalão.

- É um livro sobre uma época, e é anterior a tudo isso que aconteceu.

Barbara Freitag, que foi orientadora da autora na UnB (da qual já é aposentada) e é amiga de Maria Francisca, afirma que o livro atendia aos critérios da premiação e que é um "extraordinário trabalho de pesquisa e reconstrução histórica de um período negro do país", referindo-se à ditadura militar. Ela não vê impedimento ético na participação do júri:

- A crítica pode vir do lado de vocês (imprensa). Dou muitos pareceres. Se fosse levantada a questão de alguém que conheço estar sendo julgado, aí não teria como eu constituir nenhum júri. Enquanto professora e autora conheço muita gente. Esse é o meu métier.

O presidente da Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, diz que o júri é soberano para decidir o prêmio.