Título: Exército interrompe obras no São Francisco
Autor: Laura, Cristina; Torreão, Luísa
Fonte: O Globo, 15/12/2007, O País, p. 18

Justiça concedeu liminar a pedido dos índios Truká, que querem provar que têm direito às terras em Cabrobó (PE).

JUAZEIRO (BA). O batalhão de engenharia do Exército que realiza as obras de transposição do Rio São Francisco no Eixo Norte, em Cabrobó, Pernambuco, paralisou ontem o trabalho, cumprindo decisão judicial. Na área onde está sendo aberto o Canal de Captação e Aproximação, seis máquinas estão paradas. Na Barragem de Tucutu, dez máquinas devem ficar inativas até segunda ordem, de acordo com o capitão Walfredo Galvão Filho:

- Recebemos a liminar e paramos o trabalho imediatamente. Apesar disso, já havia uma pausa prevista para acontecer entre 20 de dezembro e 2 de janeiro - disse.

O capitão afirmou, porém, que a montagem da base para ação do Exército, a poucos quilômetros do Projeto de Integração de Bacias, continua. Homens trabalham na montagem de galpões para abrigar dormitórios, sala de reuniões, refeitório e área de lazer e exercícios para os que vão ficar na região pelos 15 meses previstos para o fim da obra.

A liminar que parou o trabalho do Exército foi concedida pelo Tribunal Regional Federal com base no litígio sobre as terras onde são realizadas as obras. Os índios da tribo Truká dizem que há registros de até dois séculos atrás comprovando a presença de sua população na região. O cacique Aurivan dos Santos Barros afirmou que as comunidades de Escurinho, Mãe Rosa, Bela Vista e Manguinha, com 458 índios, querem retornar às terras.

- Não há o que discutir. As terras são nossas, e quando conseguirmos concluir os estudos provaremos quem são os invasores - disse.

Em Sobradinho (BA), o bispo Dom Luiz Flávio Cappio, que está em greve de fome, em protesto contra as obras, foi saudado ontem com música e peça teatral por um grupo de jovens ligados a movimentos sociais, como o MST. Eles aderiram ao jejum por 24 horas em solidariedade ao bispo.

Dom Cappio tem recebido apoio de representantes de dez entidades ligadas a movimentos sociais. Acampadas em barracas de lona, em Sobradinho, eles cuidam da estrutura que cerca o ato de mobilização, dividindo-se em equipes de segurança, infra-estrutura, limpeza, comunicação e saúde.