Título: Oposição pressiona Cristina
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 15/12/2007, O Mundo, p. 45

Partidos querem que governo argentino se explique sobre caso da mala e não descartam CPI.

As principais forças opositoras argentinas aproveitaram o novo capítulo no escândalo da mala com US$790 mil, que pertencia ao venezuelano Guido Alejandro Antonini Wilson e foi retida pela Polícia Federal no aeroporto metropolitano de Buenos Aires, para redobrar as pressões sobre o governo da nova presidente, Cristina Fernández de Kirchner, em sua primeira semana de gestão. Depois de a Justiça americana ter afirmado que o destino do dinheiro era a campanha eleitoral de Cristina, a bancada da Coalizão Cívica, partido liderado pela ex-candidata à Presidência Elisa Carrió, exigiu que o ministro das Relações Exteriores, Jorge Taiana, compareça ao Congresso para explicar o caso e não descartou a possibilidade de solicitar a criação de uma comissão investigadora (similar à CPI no Brasil), para determinar a responsabilidade do novo governo argentino no escândalo.

- Isso me lembra (o ex-presidente colombiano Ernesto) Samper, que ganhou as eleições e duas semanas depois foi descoberto que recebia financiamento do narcotráfico - declarou Carrió.

De acordo com investigação da Justiça americana, o dinheiro que estava na mala de Antonini Wilson fora enviado pelo governo Chávez para colaborar com a campanha da nova presidente. Os quatro agentes chavistas, detidos quarta-feira passada em Miami, tentaram armar um plano para evitar que o verdadeiro destino do dinheiro fosse revelado.

- Graças a Deus (o governo Kirchner) não poderá deter a Justiça americana. Essa é nossa melhor garantia - enfatizou Carrió, derrotada por Cristina na eleição presidencial.

EUA: relação com Argentina é sólida

Uma ala da bancada da União Cívica Radical (UCR) também se uniu à frente opositora.

- Este fato é apenas um exemplo, entre muitos outros, das práticas políticas da diplomacia bolivariana. Também foram feitas denúncias no Equador e na Bolívia, onde Chávez também se intrometeu na vida interna dos países apoiando setores políticos ligados à sua agenda internacional - afirmou o senador radical Gerardo Morales, ex-candidato a vice-presidente da chapa liderada pelo ex-ministro da Economia Roberto Lavagna.

Na próxima segunda-feira, no mesmo dia em que será iniciado o julgamento aos agentes venezuelanos detidos em Miami, a UCR apresentará um pedido à Justiça para receber informações sobre o estado em que está o processo sobre a mala de Antonini Wilson. O governo argentino solicitou a extradição do empresário venezuelano e, esta semana, a juíza encarregada do caso, Marta Novatti, pediu a colaboração dos tribunais americanos.

Se dentro de seu país a nova presidente argentina, que anteontem disse ser vítima de uma operação de inteligência dos Estados Unidos, foi duramente atacada, no exterior Cristina recebeu alguns gestos de apoio. Até mesmo o governo do Uruguai, que há mais de dois anos protagoniza um delicado conflito diplomático com a Argentina, desencadeado pela construção de uma fábrica de celulose na fronteira, manifestou seu respaldo ao governo Kirchner.

- Acredito que tem muita gente nervosa pelas boas relações que a Argentina tem com a Venezuela - disse o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, aderindo à teoria do governo Kirchner.

Segundo a Casa Rosada, o governo americano está castigando a nova presidente por sua forte aliança com Chávez. Ontem, o embaixador americano em Buenos Aires, Earl Anthony Wayne, afirmou que "as relações entre os Estados Unidos e a Argentina são sólidas". Já o governo Chávez expressou sua admiração pela presidente argentina. "Ratificamos à Nação argentina toda a nossa solidariedade para continuar juntos, trabalhando na construção de uma nova época de união entre nossos povos", informou a chancelaria venezuelana, em nota oficial. De acordo com o governo chavista, "o que se pretende é articular uma desesperada ação política e judicial para impedir o avanço de novas lideranças na região".