Título: Governo decide retaliar os dissidentes
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 16/12/2007, O País, p. 3

A VIDA SEM CPMF: A ordem já foi dada - os pleitos de cargos e emendas dos dissidentes não serão atendidos.

Lula vai tornar difícil a vida de quem votou contra o imposto, principalmente os que receberam verbas antes da votação

Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA.Os aliados que colaboraram com a oposição e impuseram ao presidente Lula a derrota da CPMF já começam a sentir o peso da mão do governo. Principalmente os beneficiados com nomeações e liberação de verbas antes da votação. A determinação foi do presidente, que decidiu delimitar sua base no Senado a partir do placar da votação que derrubou o tributo na quarta-feira. O Planalto vai esperar a votação do segundo turno da emenda que prorroga a DRU (Desvinculação de Receitas da União) para começar a pôr em prática um tratamento diferente para aliados e dissidentes.

A ordem é tratar a pão e água os sete senadores da base governista que ficaram contra a CPMF. A explosão da irritação de Lula aconteceu na madrugada de quinta-feira, logo após a derrota por 45 votos a 34 - eram necessários 49. Ao lado de ministros e assessores, Lula demonstrou raiva e questionou a lealdade da base. Principalmente porque, nos últimos dias, resolveu pessoalmente pendências de senadores e governadores. Por fim, disse que não aceitaria mais qualquer tipo de chantagem e muito menos negociar com faca no pescoço. O recado de Lula foi direto: quem quiser ser dissidente, será tratado agora como dissidente.

Na mira do governo estão os peemedebistas Jarbas Vasconcelos (PE), Mão Santa (PI) e Geraldo Mesquita (AC), além de Romeu Tuma (PTB-SP), César Borges (PR-BA), Expedito Junior (PR-RO) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Os governistas esperavam que Tuma votasse a favor após a nomeação do filho, Romeu Tuma Junior, para secretário nacional de Segurança. César Borges, recebido com pompa no PR da Bahia, votou e fez discurso contra a CPMF. Mozarildo faltou para ir ao enterro do governador de Roraima, Ottomar Pinto (PSDB), mas avisara que votaria contra.

- Não me preocupo com ameaças. Sou dissidente desde o início. Mas esse tipo de comportamento mostra que o governo é pequeno, mesquinho - diz Jarbas Vasconcelos.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, deu o recado ao afirmar, depois da derrota, que era preciso saber "quem é e quem não é parceiro do governo". Mas a tática de reagir com o fígado foi descartada por um motivo pragmático: poderia comprometer a votação, em segundo turno, da emenda que prorroga a DRU, aprovada com 60 votos a favor, quando a oposição liberou suas bancadas. Até mesmo rebeldes da base votaram a favor. O segundo turno está marcado para quarta ou quinta-feira.

Até a última sexta-feira, integrantes do núcleo de articulação política tentavam amenizar o desejo de retaliação do Planalto. Sem sucesso. Acabou vencendo a visão petista. A ordem já foi dada: os pleitos de cargos e emendas dos dissidentes não serão atendidos.