Título: Petistas admitem que não fiscalizam tesouraria
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 16/12/2007, O País, p. 11

Berzoini e Tatto, que concorrem hoje à presidência da legenda, prometem fazer mudanças no controle financeiro.

SÃO PAULO. No embalo da disputa interna que se encerra neste domingo - quando se realiza o segundo turno das eleições pela presidência do PT - líderes petistas admitiram publicamente que o partido não fez nenhum controle efetivo dos mecanismos de tesouraria que o levaram à crise do mensalão e do caixa dois em 2005 e continua "sujeito à corrupção". Pressionados, os dois candidatos, Ricardo Berzoini e Jilmar Tatto, prometeram mudanças imediatas para 2008.

Berzoini, que comanda o partido há dois anos, disse ao GLOBO que aceita as críticas com humildade - embora discorde delas - e afirmou que, caso seja reconduzido ao cargo, mudará a gestão das finanças internas.

- A idéia é que a tesouraria funcione coletivamente. Sem burocratizar, mas de modo que cada decisão importante passe por uma avaliação coletiva - disse Berzoini, explicando que quer que três ou quatro dirigentes que não tenham outras funções administrativas formem uma comissão de acompanhamento financeiro.

Tatto, que vinha atacando a falta de transparência na atual gestão, recebeu críticas pelo seu estilo de atuação no PT, apontado como "clientelista" e prometeu que democratizará ao máximo a condução financeira. E disse que entregará a tesouraria e a secretaria-geral do partido a outras correntes, caso seja eleito:

- As críticas são opiniões e eu respeito opiniões. Mas vamos vencer e democratizar a destinação das verbas.

O ataque mais pesado partiu do grupo Mensagem ao Partido, que detém 17% do poder interno e está eleitoralmente dividido em três grupos nos apoios neste segundo turno. Parte do grupo, liderado pelo ministro Tarso Genro, apoiou Berzoini. Outra parte, ligada ao ex-ministro Olívio Dutra e ao prefeito de Recife, João Paulo, optou por Tatto. Outro grupo tem declarado que "ficará em casa" hoje, sem participar do processo eleitoral. Antes da divisão, o grupo concordou, em documento, na formulação de críticas internas:

"Rechaçamos esta lógica que introduz de fora para dentro do nosso partido (...) que vai transformando o partido numa máquina eleitoral cada vez mais dependente do clientelismo, do dinheiro, e portanto, cada vez mais sujeito à corrupção (...). Pressionaremos (...) por um novo sistema de financiamento, mais modesto, porém conforme com seus objetivos históricos".

Mudanças foram propostas em congresso, mas adiadas

Tanto Berzoini quanto Tatto evitaram ataques diretos no segundo turno.

- Nestes dois anos em que estive à frente do PT, todas as informações relevantes foram apresentadas, nunca sonegadas.

Berzoini disse que não sabe quem deve ocupar o cargo de tesoureiro, caso seja eleito hoje.

Segundo o secretário nacional de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, as mudanças na estrutura da tesouraria petista deveriam ter sido discutidas no 3º Congresso Nacional do partido, mas foram proteladas para 2009, quando o PT fará um Encontro Nacional. Ele propôs, no congresso, que o PT tenha três secretários de finanças (cada um de uma corrente partidária), em vez de um:

- Os documentos só teriam validade com a assinatura de pelo menos dois secretários e o controle não ficaria nas mãos de apenas um grupo, como aconteceu anteriormente - explicou Pomar.

COLABOROU Ricardo Galhardo