Título: Prefeitos temem especulação imobiliária e impactos sociais
Autor: Taves, Rodrigo França
Fonte: O Globo, 16/12/2007, O País, p. 12

ÁGUAS DA POLÊMICA: Preço de aluguéis e alimentos subiu.

Transposição deve fazer população de Cabrobó dobrar.

CABROBÓ e FLORESTA (PE). Embora a obra de transposição das águas do Rio São Francisco ainda esteja bem no início, a economia de Floresta e Cabrobó já está aquecida: os preços de aluguéis e alimentos aumentaram, os poucos hotéis estão lotados, empresas fornecedoras da construção civil já começam a se instalar, e operários estão sendo contratados pelo Exército para as frentes de obra. E as grandes empreiteiras ainda nem chegaram. Em Cabrobó, o prefeito Eudes Caldas (PTB) trabalha com a estimativa de que a população do município, hoje de 28.752 pessoas, vai dobrar até 2012.

O governo federal já pagou R$15 milhões em desapropriações e deve pagar mais R$45 milhões, o que injetou dinheiro na economia da região. Há também a previsão de que dentro de bem pouco tempo começará a especulação imobiliária, pois parte das terras na região da caatinga, hoje bem baratas, devem se tornar agricultáveis com a abertura de tomadas d"água para pequenos rios que hoje passam boa parte do ano secos.

- O Rio Terra Nova será perenizado, e deverá incorporar 20 mil hectares de terras irrigadas. Há uma perspectiva de migração para a região de empreendedores na área agrícola. A lei da oferta e procura deve fazer os preços subirem - diz o prefeito.

Em Floresta, onde acaba de se instalar uma fábrica de brita, o prefeito Afonso Ferraz (PSDB) também já relaciona áreas boas para a agricultura, que atualmente estão abandonadas por falta de água e passarão a produzir:

- Para a região de Serra Negra vai ser a redenção. Se em Serra Negra não der para fazer um projeto de irrigação, em lugar algum dará. O que vai determinar é o preço da água.

Floresta passa 15 dias do mês sem água nas torneiras

Mas há uma preocupação sobre o que poderá acontecer na região com a chegada de milhares de operários das empreiteiras que assumirão os novos lotes da obra. Só em Floresta devem chegar cerca de 5 mil trabalhadores, além de suas famílias. Não há escolas, postos de saúde ou habitações para todos. A cidade hoje passa 15 dias por mês sem água nas torneiras, e tem recebido a ajuda dos carros-pipa do Exército.

- Se com o Exército, que está fazendo um pequeno pedaço da obra, a cidade já está sentindo os efeitos da obra, imagina com quatro ou cinco grandes empreiteiras aqui dentro. Vamos precisar da ajuda do governo federal, ou haverá graves problemas - adverte Ferraz.

Gilmar Ferreira da Silva, do Ministério da Integração Nacional, coordenador de campo do projeto, diz que, para tentar evitar a especulação no preço das terras, o governo federal decretou de interesse social uma área de 2,5 quilômetros em cada lado do canal. Pelo decreto, a União poderá desapropriar terras nessa região pelo preço em vigor antes do início das obras.

Segundo o coordenador, o projeto também prevê que os municípios afetados pela obra terão apoio federal para educação, saúde e segurança, com o objetivo de reduzir os impactos sociais.