Título: Segurança reforçada
Autor: Rocha, Leonel
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2009, Brasil, p. 13

CONFLITO AGRÁRIO

Homens da Força Nacional chegam ao Pará hoje para ajudar no policiamento. Presidente da CNA faz novo pedido de intervenção federal no estado.

A Força Nacional de Segurança Pública começa a desembarcar hoje no Pará para reforçar o policiamento no estado. Ao todo, serão enviados 50 homens nos próximos dias. Uma parte vai para a região sul, onde os sem-terra invadiram várias fazendas da Agropecuária Santa Bárbara. Outra parte ficará em Belém, substituindo PMs que estão sendo deslocados para a área de conflito, onde o governo estadual iniciou uma operação de desarmamento. Devido à série de invasões, a presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), protocolou ontem na Procuradoria-Geral da República novo pedido de intervenção federal no Pará. Ela exige o cumprimento dos 111 pedidos de reintegração de posse de fazendas invadidas por sem-terra. Segundo a senadora, essas reintegrações não foram acatadas pelo governo local e, se persistir essa situação, a parlamentar vai pedir o impechment da governadora Ana Júlia Carepa (PT). ¿Estamos vendo no Pará a era do absolutismo, onde a governadora pretende ser o Executivo, o Legislativo e o Judiciário¿, afirmou Kátia Abreu.

O primeiro destacamento da Força Nacional, com 20 integrantes, chega hoje a Belém de avião. Um segundo, com 30 homens, segue de ônibus e deve chegar à capital paraense depois de amanhã. O envio foi negociado entre a governadora Carepa, o secretário-geral de segurança do estado, Geraldo José de Araújo, e o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Barreto. No último sábado, invasores sem-terra entraram em confronto armado com seguranças da Fazenda Espírito Santo, pertencente à Agropecuária Santa Bárbara, que tem como um dos donos o banqueiro Daniel Dantas. Na ocasião, jornalistas relataram que foram usados como escudo humano pelos sem-terra. Em Xinguara, começaram ontem os depoimentos de funcionários da agropecuária. Os jornalistas serão ouvidos amanhã, em Marabá. A Santa Bárbara informou que o segurança Anderson Nadson Pinheiro Ferreira corre o risco de perder a visão de um dos olhos porque recebeu um tiro disparado por um sem-terra durante o conflito.

Bloqueio Apesar de a polícia negar, o clima na região continua tenso. A direção da Santa Bárbara denunciou ontem o risco de bloqueio total dos acessos à Espírito Santo. Segundo a empresa, a fazenda está invadida por dois grupos de posseiros desde fevereiro e está com sua entrada principal, às margens da rodovia PA-150, bloqueada por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na entrada pelos fundos do imóvel, estão acampadas famílias ligadas à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf). Em comunicado distribuído ontem, o grupo Santa Bárbara desafiou as autoridades a tentar entrar na fazenda Espírito Santo ¿sem sirenes, batedores, terno e gravata ou carros identificados¿.

Os advogados da agropecuária comunicaram a tentativa de bloqueio total às delegacias especiais de Conflito Agrário em Marabá e Redenção. Mas nem a Polícia Civil nem a PM decidiram retirar os sem-terra da propriedade. O grupo lamenta ainda que os delegados encarregados de acabar com os conflitos e até o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, estejam reproduzindo informações imprecisas passadas pelo MST e pela Fetraf.

Segundo informações da agropecuária, até mesmo jornalistas estão sendo impedidos de entrar na propriedade. O MST, ainda de acordo com o relato da empresa, proibiu a entrada de equipes da TV RBA, filiada à TV Bandeirantes, e do Diário do Pará. Equipe de reportagem da Agência Bloomberg também precisou de longa negociação para entrar na propriedade, relatou a assessoria da pecuária. O MST nega o bloqueio.

De acordo com a gerência da Espírito Santo, só entra na propriedade quem o MST quer. Nem mesmo os funcionários ousam utilizar a entrada principal. ¿Os funcionários da Espírito Santo só não estão em cárcere privado porque utilizam, quando absolutamente indispensável, saída alternativa por propriedades vizinhas, onde enfrentam estradas precárias e várias cancelas para chegar à rodovia¿, diz um comunicado da Santa Bárbara. A empresa relatou que na manhã de quarta-feira um motorista do ônibus escolar da prefeitura de Xinguara, que foi à Fazenda Espírito Santo buscar alunos, foi pressionado e recebeu ameaças de depredação do veículo.