Título: Meirelles não vê risco à disciplina fiscal
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 18/12/2007, O País, p. 3

Mercado espera reação do governo para rever Orçamento.

SÃO PAULO. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem em discurso que a derrubada da CPMF não vai pôr em risco a disciplina fiscal do governo. Segundo ele, o país fez "uma opção pela sustentabilidade".

- O país está claramente engajado num processo de responsabilidade fiscal, como já foi enfatizado pelo presidente Lula, independentemente de fatores pontuais como a CPMF - afirmou Meirelles, no encerramento de seminário que discutiu as chances de o país alcançar o grau de investimento.

A preocupação com os efeitos da CPMF também esteve presente nos discursos de outros participantes do seminário. Regina Nunes, representante da agência de rating Standard & Poor"s (S&P) no Brasil, afirmou que o mercado espera por uma resposta do governo brasileiro para o "buraco" aberto no Orçamento do próximo ano.

- A S&P vai esperar para ver como o governo vai gerenciar o seu fluxo, já que R$40 bilhões (a menos no Orçamento) fazem muita diferença, sim - disse ela, lembrando que em maio passado, quando a agência elevou o rating do Brasil em moeda estrangeira (para BB+), a receita com a prorrogação da CPMF estava embutida na análise.

Desde então, governo e mercado esperam pelo anúncio de nova revisão da nota brasileira, que incluiria o país num ranking já integrado por Chile e México.

- Não estamos dizendo absolutamente que essa perspectiva positiva não vai mais se concretizar, mas o fato é que se criou um problema que não existia antes - disse ela.

Para o diretor para Mercados Emergentes do banco americano Goldman Sachs, Paulo Leme, a rejeição da CPMF não impede a conquista do grau de investimento. Mas ele também afirmou que a reação do governo ao resultado da votação no Senado será determinante para a decisão das agências de classificação de risco.

- É um critério qualitativo. Se houver corte de despesas, e não aumento de impostos, e se o governo não tocar no superávit primário, não haveria problemas - afirmou ele.