Título: Lula: Vamos ver qual foi o estrago
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 18/12/2007, O País, p. 3

Presidente reafirma que não há motivo para anunciar novos impostos.

SÃO PAULO. Um dia após ter enquadrado o ministro da Fazenda, Guido Mantega - ao negar que o governo pense, neste momento, em aumentar impostos para compensar a perda de R$40 bilhões por causa da rejeição da CPMF -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que o momento não é de tomar decisões extemporâneas nem anunciar novos impostos. Embora admita que o governo deve pensar como repor parte da perda, Lula disse que é preciso calma.

- Não há nenhum motivo para qualquer precipitação, não há nenhum motivo para anunciar medidas de forma extemporânea, para anunciar novos impostos. Vamos sentar e vamos ver qual foi o estrago, e o que fazer para colocar no lugar - disse Lula no programa semana de rádio "Café com o presidente".

Sábado, Guido Mantega, em entrevistas aos jornais O GLOBO e O Estado de S. Paulo, dissera que o governo pretendia criar um imposto permanente para financiar a saúde. Lula não gostou das declarações e, anteontem, durante votação para a escolha do presidente do PT, desautorizou seu ministro, que telefonou ao presidente para dar explicações. Lula disse que o tema não havia sido tratado com ele e que, se fosse o caso, Mantega deveria convencê-lo da necessidade de novos tributos.

Presidente fala em "atitudes maduras e conscientes"

Ontem, Lula reafirmou que, por enquanto, não pretende aumentar a carga tributária.

- Obviamente, nós vamos ter que arrumar uma grande parte desses recursos. O como fazer eu preciso discutir com o ministro da Fazenda, discutir com o ministro do Planejamento, para que a gente possa tomar as atitudes mais maduras possíveis, mais conscientes, sem nenhum atropelo.

Embora não tenha criticado a oposição diretamente, Lula voltou a dizer que os principais prejudicados pela rejeição da CPMF serão os usuários do Sistema Único de Saúde. Ele frisou que parte dos votos contra o tributo partiram da base aliada:

- A emenda constitucional exigia que tivéssemos 49 votos e tivemos quatro pessoas, teoricamente, da nossa base, que votaram contra. As pessoas ficam se perguntando quem perdeu, se foi o Lula, se foram os governadores. Na verdade, quem perdeu foi o país. Perderam quase seis mil prefeitos do Brasil; perderam 27 governadores de estados e perdeu toda a população brasileira que utiliza o SUS.

O presidente procurou minimizar os efeitos da derrota para a política econômica do governo e para a imagem internacional do país.

- Manter a estabilidade não dependia da CPMF, dependia única e exclusivamente da nossa responsabilidade em manter uma política de ajuste fiscal dura, de controlar a inflação e não permitir que o Estado gaste mais do que aquilo que é a sua capacidade de arrecadar. Isso é uma coisa sagrada.

www.oglobo.com.br/pais