Título: Candidatos a prefeito temem a tesoura
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 18/12/2007, O País, p. 3

"Se o governo optar pelo corte nas emendas, não aprova mais nada aqui", diz Paulinho.

BRASÍLIA. A possibilidade de corte nas emendas parlamentares individuais e coletivas está preocupando cerca de 80 deputados da base aliada pré-candidatos a prefeito. Na disputa com candidatos da oposição, a liberação de recursos para as cidades garante vantagem aos candidatos governistas, os maiores beneficiados pelo governo. Os parlamentares da base alertam que, se o corte for de fato uma das opções do governo para compensar a perda dos R$40 bilhões com o fim da cobrança da CPMF, a oposição poderá impor mais uma derrota ao governo.

Candidato do PR à prefeitura de Vila Velha (ES), o deputado Neucimar Fraga foi semana passada à Casa Civil, com os ministros das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e do Planejamento, Paulo Bernardo. O deputado disse que, além dos R$7 milhões que tem em emendas individuais, há R$385 milhões em emendas de bancada para o Espírito Santo.

Para Fraga, o governo ainda está quebrando a cabeça para saber como serão feitos os cortes no Orçamento de 2008. Segundo ele, cada um tem uma idéia para o problema provocado pelo fim da CPMF.

- Não sei se o governo vai querer resolver isso afetando a totalidade das emendas. Se essa for a opção, a oposição irá impor duas derrotas ao governo: primeiro, o fim da CPMF e, depois, criando problemas para os candidatos da base aliada, que pela relação com o governo tem mais facilidade de diálogo e liberação - afirmou Fraga.

"Se tiver de passar a navalha, passe na cabeça de quem atrapalhou"

O deputado apelou ao governo para preservar os integrantes da base, caso haja cortes nas emendas:

- Não seria uma maneira inteligente de resolver o problema. Se tiver que passar a navalha, passe na cabeça de quem atrapalhou e não na de quem ajudou. Na Câmara, nós aprovamos o imposto - apela Neucimar.

O capixaba disse que, no último fim de semana, vários prefeitos o procuraram, preocupados com os cortes no Orçamento de 2008, mas também com possíveis efeitos em emendas já empenhadas de 2007, para as quais não houve ainda a liberação de dinheiro.

- O temor é que o governo, mesmo tendo empenhado, não pague as emendas para começar o ano com saldo em caixa, porque o Orçamento não será votado a tempo - disse Fraga.

O deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (SP) - pré-candidato do PDT à prefeitura de São Paulo - disse que há um temor generalizado entre os parlamentares em relação ao corte nas emendas. Assim como outros deputados, Paulinho conversou semana passada com o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), que lhe disse não haver nada confirmado a respeito dos cortes.

- Quem tem emendas está preocupado. Este ano cedi minhas emendas individuais a dois deputados. Se o governo optar pelo corte nas emendas, não aprova mais nada aqui - disse Paulinho.

Se a preocupação é grande entre os que pretendem disputar eleições, também atinge os demais deputados que muitas vezes fazem emendas para ajudar seus candidatos. O impacto da liberação é menor entre os deputados de oposição, que já têm muita dificuldade de ver suas emendas pagas. Eles consideram que, caso haja mesmo o corte de emendas da base aliada, isso ajudará a reduzir a desigualdade na disputa municipal. Essa seria uma outra conseqüências política do fim da CPMF. Por isso, a oposição demonstra tranqüilidade.

- As emendas individuais são sagradas e precisam ser conservadas acima de qualquer ameaça. E quanto ao corte das emendas de bancada, as coletivas, não vejo como ameaça ao Congresso ou à oposição. Quem sairia perdendo seriam os próprios aliados do governo Lula no diversos estados - disse ACM Neto, candidato do DEM à prefeitura de Salvador.

Governistas são campeões de liberação de emendas

Levantamento feito pelo GLOBO em outubro mostrou que, dos pouco mais de cem parlamentares pré-candidatos, os integrantes da base aliada estão entre os campeões de liberação de emendas ao Orçamento, direcionadas para seus redutos eleitorais. Dos R$25,2 milhões liberados para os pré-candidatos até o início de outubro, apenas R$1,9 milhão foram de emendas para deputados de oposição, também pré-candidatos.