Título: STF abre inquérito para investigar líder do governo por compra de votos
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 18/12/2007, O País, p. 4

Jucá teria se beneficiado de esquema montado na prefeitura de Boa Vista.

BRASÍLIA. Depois de perder a batalha pela CPMF, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), sofreu outro revés: o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu inquérito para investigar o senador pela suspeita de compra de votos na campanha que o elegeu, em 2002. Segundo a denúncia, uma cooperativa contratada pela prefeitura de Boa Vista - governada à época por sua ex-mulher Tereza Jucá - teria usado seus funcionários para convencer eleitores a votarem em Jucá e em Ottomar Pinto, candidato a governador. Em troca, supostamente receberam R$50 e a promessa de benefícios sociais, como a inclusão no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).

Caso chegou à Procuradoria Geral da República em julho

A denúncia foi investigada pelo Ministério Público de Roraima, mas, diante das suspeitas contra Jucá, que tem foro privilegiado, foi remetida à Procuradoria-Geral da República, em junho deste ano. No dia 19 de novembro, a procuradoria entendeu que havia indícios suficientes para abertura de investigação criminal e enviou pedido ao STF. No último dia 7, o ministro Celso de Mello, relator de outros inquéritos contra Jucá, aceitou o pedido e determinou a realização de diligências. Jucá deverá ser convidado a depor. Procurado pelo GLOBO, não retornou as ligações.

O inquérito também investiga a participação de Tereza Jucá no suposto esquema, que teria beneficiado ainda a campanha de Ottomar Pinto ao governo de Roraima. Ottomar morreu semana passada, vítima de problemas cardíacos.

O parecer da procuradoria que pede a abertura do inquérito diz que o esquema foi denunciado por três ex-funcionárias da Cooperativa Roraimense de Serviços (Cooserv), em depoimentos à Polícia Federal. Segundo o Ministério Público, Gilma Gonçalves de Azevedo, Maria José Bezerra de Araújo e Edilene Ferreira de Oliveira entregaram documentos que "comprovam a existência de estrutura voltada para angariar votos", além de duas mini-urnas eletrônicas com nome e identificação dos candidatos supostamente beneficiados. O equipamento serviria para garantir que os eleitores não cometessem erros na hora de votar em Jucá e Ottomar.

De acordo com a denúncia, os funcionários das cooperativas foram distribuídos em funções com nomes específicos como "corrente", "elos", "coordenador de bairro" e "militantes". "Os referidos militantes tinham a tarefa de identificar os eleitores com a anotação de seus nomes, endereços, número de títulos de eleitor, seção e local de votação, com posterior elaboração de relação desses eleitores comprometidos com a coligação PMDB/PSDB/PST", diz trecho do parecer, obtido pelo GLOBO.

"Militantes" negociavam votos por programas sociais

Segundo as ex-funcionárias da cooperativa, "os eleitores recebiam R$50 no início do dia das eleições com a promessa de receber outros R$50 ao término da votação". Os militantes a serviço da campanha, dizem os depoimentos, também negociavam votos "com eleitores que participavam ou gostariam de ter acesso aos programas sociais da prefeitura".

A procuradoria pediu a realização de perícia nas urnas entregues pelas ex-funcionária da Cooserv, que deverão prestar novos depoimentos. O Ministério Público de Roraima também ofereceu denúncia à Justiça contra Tereza Jucá.