Título: Banco dos EUA sugere vender ações do Brasil e Bolsa tem 3ª pior queda do ano
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 18/12/2007, Economia, p. 26

Temor de inflação nos Estados Unidos também influenciou. Dólar sobe 0,89%.

RIO e NOVA YORK. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) viveu ontem seu terceiro pior dia do ano. O aumento dos preços nos Estados Unidos acima da expectativa dos analistas e a redução na recomendação de compra das ações brasileiras feita pelo banco americano Morgan Stanley fizeram a Bolsa fechar em queda de 4,19%, aos 59.828 pontos. No mês, o pregão acumula desvalorização de 5,04%. Com o aumento da aversão a risco, os investidores sacaram recursos de países emergentes como o Brasil e o dólar fechou em alta de 0,89%, cotado a R$1,813.

O mau humor ganhou força no início dos negócios. Pela manhã, o Morgan Stanley enviou comunicado a clientes reduzindo a recomendação das ações brasileiras devido ao medo de recessão da economia americana em 2008. Segundo o banco, a sugestão passou de "manter a exposição" para "reduzir a exposição" a papéis brasileiros. Os estrategistas da instituição prevêem "ambiente mais difícil" para bancos, empresas de telecomunicações e varejistas do país. O banco também rebaixou a recomendação para os papéis de África do Sul e Turquia.

Na opinião de Alexandre Horstmann, diretor de gestão da Meta Asset Management, com um cenário mais pessimista nos Estados Unidos em 2008, os investidores devem reduzir aplicações em países emergentes, como o Brasil. . Ontem, a maioria das bolsas da América Latina fechou com quedas superiores a 2%.

Risco-Brasil avança 4,95%, para 212 pontos centesimais

Na Ásia, os principais mercados registraram fortes perdas. A Bolsa de Hong Kong caiu 3,5%, e a de Cingapura, 3,25%. Na Europa, Londres fechou em baixa de 1,86%, enquanto Frankfurt recuou 1,55%. Nos EUA, o Nasdaq caiu 2,32%, o Dow Jones, 1,29%, e o S&P, 1,50%.

A alta da inflação americana foi divulgada na última sexta-feira, mas continuou afetando Wall Street ontem. Os investidores também não estão confiantes de que o leilão de US$20 bilhões feito ontem Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) vá aliviar a atual crise de crédito. O resultado do leilão só será divulgado amanhã.

- Com o aumento de preços nos EUA acima do esperado, o Fed fica sem liberdade para reduzir seus juros, hoje em 4,5% ao ano. E a maioria dos analistas acredita serem necessárias novas quedas na taxa para tentar controlar a atual crise do crédito e aumentar a liquidez dos mercados - diz Horstmann.

No domingo, o ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirmou, em entrevista ao canal ABC, que os EUA enfrentam hoje risco de estagflação (recessão com inflação alta). Mas ontem foi divulgada uma boa notícia: o déficit em conta corrente do país recuou 5,5% no terceiro trimestre, para US$178,5 bilhões, seu menor patamar em dois anos. O presidente americano, George W. Bush, disse que há "nuvens de tempestade", mas que a economia está em boa forma.

Segundo analistas, o mau humor foi reforçado pelo rumor de que o Goldman Sachs anunciará em breve um prejuízo de US$10 bilhões em um de seus fundos, o que seria o maior valor desde o início da crise das hipotecas de alto risco (subprime) nos EUA.

Segundo Mário Paiva, da Liquidez DTVM, a expectativa em torno da indefinição do governo sobre um substituto para a CPMF também contribuiu para a saída de investidores do país. O risco-Brasil avançou 4,95%, para 212 pontos centesimais. Na Bolsa, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras recuaram 5,23%, e as da Vale, 3,2%. Os papéis do Banco do Brasil fecharam em baixa de 5,52%, a R$29,76, pouco acima dos R$29,25 estabelecidos na oferta secundária de ações do banco, que estrearam ontem.

Além disso, analistas lembraram o vencimento de opções na Bovespa, que aumenta a briga entre quem comprou e quem vendeu papéis no mercado futuro e tenta ajustar suas posições. Só o exercício de opções sobre as ações da Bovespa movimentou R$2,054 bilhões. Ontem, a Bolsa teve giro de R$8,2 bilhões.

(*) Com agências internacionais