Título: Petrobras investirá até US$1 bilhão na Bolívia
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 18/12/2007, Economia, p. 28

Lula e Morales assinam acordos na área energética. Estatal terá gasto extra anual de até US$180 milhões com gás.

LA PAZ. Os governos do Brasil e da Bolívia assinaram ontem uma declaração conjunta e nove acordos que prevêem o desenvolvimento de vários projetos entre os dois países, principalmente na área de energia. O principal e mais aguardado acordo é o que marca a retomada dos investimentos da Petrobras na Bolívia, interrompidos em maio do ano passado, quando o país nacionalizou suas reservas de petróleo e gás natural. Pelos acordos assinados entre os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras deverá investir entre US$750 milhões e US$1 bilhão na exploração de gás natural na Bolívia. Esses investimentos serão realizados nos campos já em produção de San Alberto e San Antonio e no novo campo de Ingre.

Outra questão acertada e ratificada ontem, em acordo entre a Petrobras e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), refere-se ao pagamento adicional pelas parcelas de gás natural de maior valor contidas no volume total de gás importado pela estatal brasileira. Estima-se que a Petrobras terá um gasto adicional anual nas compras do gás boliviano entre US$100 milhões e US$180 milhões.

A visita de Lula a La Paz no momento em que o país atravessa uma grave crise política interna representa uma demonstração do apoio de Lula a Morales, reatando as relações entre os dois países, estremecidas desde o ano passado com as medidas de nacionalização das reservas.

- Estou aqui para reafirmar a disposição do Brasil de contribuir para que a Bolívia encontre o caminho da estabilidade e do desenvolvimento econômico e social - disse Lula.

A Petrobras obteve uma vitória nas negociações com o governo boliviano em relação à futura produção de gás natural no país. Ficou acertado que será obrigada apenas a vender no mercado interno até 18% de sua produção. Isso porque uma resolução do governo da Bolívia do ano passado obriga todas as produtoras de petróleo no país a venderem o equivalente à sua produção de gás no mercado interno. O fato prejudicava a Petrobras, por ser a maior produtora do país.

- Aos que pregaram o distanciamento e o esfriamento de nossas relações, respondemos com uma agenda renovada - afirmou Lula

Morales fez um discurso diferente dos anteriores, conciliador, afirmando que a Bolívia não é contra investimento privado e que quer atrair novos recursos.

- Estamos fazendo história para o bem dos nossos povos e de nossos países - disse Morales. - Este encontro desbloqueia os investimentos.

Gabrielli: "Não são questões pessoais"

Morales disse ainda que qualquer investidor quer recuperar seus investimentos e ter lucro:

- Isso sempre vamos garantir, vamos respeitar qualquer empresa. Entendo as preocupações do embaixador do Brasil, as desconfianças da Petrobras, e este encontro foi para acabar com essas desconfianças. Porque necessitamos de vocês.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que não tem qualquer ressentimento com a Bolívia e que é bom negócio voltar a investir no país com as novas regras. Segundo ele, o investimento a curto prazo deve atingir US$300 milhões no aumento da produção dos campos de San Alberto e Santo Antonio e no desenvolvimento do campo de Ingre.

Gabrielli destacou ainda os estudos para a criação de uma empresa mista entre a Petrobras e a YPFB voltada para novos projetos de exploração de gás na Bolívia:

- Não tenho ressentimentos, não há por que ter. São relações nas quais se discutem relações legais, econômicas e políticas. Não são questões pessoais.

Ontem também foi assinado acordo entre a YPFB e a Braskem para estudo conjunto visando a desenvolver um pólo petroquímico.

BOLÍVIA DECIDIRÁ SEU FUTURO EM 10 REFERENDOS EM 2008, nas páginas 32 e 33