Título: Grupo protesta contra a transposição
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 19/12/2007, O País, p. 12

Manifestantes, entre eles Letícia Sabatella, divulgam contraproposta ao projeto.

BRASÍLIA e SOBRADINHO (BA). Solidários à greve de fome do bispo dom Luiz Cappio, a quem consideram um mártir, representantes de movimentos sociais, entre eles a atriz Letícia Sabatella e 300 ribeirinhos, pescadores e quilombolas da Bacia do São Francisco, foram à Praça dos Três Poderes protestar contra a transposição do rio. Eles divulgaram uma contraproposta ao governo, condicionando o fim do jejum à suspensão das obras e à retirada imediata de tropas do Exército de Cabrobó e Floresta, em Pernambuco, para que sejam discutidas as alternativas ao déficit hídrico e o desenvolvimento socioambiental sustentável do Semi-Árido e da Bacia do São Francisco.

A manifestação ocorreu em frente ao Supremo Tribunal Federal e se repetirá hoje, quando será julgado recurso do governo contra liminar que paralisou as obras. Foi elaborado um documento de oito pontos, a ser entregue ao chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho.

Manifestantes dizem que projeto beneficia agronegócio

Para os manifestantes, a transposição tem como objetivo beneficiar o agronegócio, a indústria e as empreiteiras. Segundo eles, apenas 4% da água desviada do rio abastecerá a população rural pobre, enquanto 70% servirão à irrigação de grandes plantações de frutas e à criação de camarões. O restante - 26% - irá para as cidades e atividades industriais, incluindo uma siderúrgica no Ceará.

Outro argumento é o custo. O projeto está orçado em R$6 bilhões e beneficia 12 milhões de pessoas. Os movimentos sociais afirmam que investimentos de R$3,3 bilhões levariam água a 44 milhões de moradores da região, sendo dez milhões no meio rural.

- Existem propostas alternativas para o Semi-Árido sem criar mais um caminho de esgotamento do São Francisco - disse Letícia Sabatella, que integra a ONG Humanos Direitos.

Letícia elogiou dom Cappio e rebateu as críticas do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que condenou a greve de fome.

- O governo não tem se mostrado democrático, toma decisões de cima para baixo. Percebi a seriedade de dom Luiz. Não é arrogância nem loucura, como a imprensa tem dito. O seu desapego de abrir mão da própria vida não há de ser em vão.

A coordenadora nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST) Marina dos Santos espera que o governo reveja a disposição de não negociar:

- Acreditamos que o governo não queira ter no seu currículo a morte de alguém que entrega a vida em defesa dos pobres e do São Francisco.

Os manifestantes divulgaram abaixo-assinado com 867 nomes, entre eles o do ator Wagner Moura e do bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga.

COLABOROU: Luisa Torreão, da Agência A Tarde