Título: Briga acirrada pelo supercelular
Autor: Tavares, Mônica; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 19/12/2007, Economia, p. 27

TELEFONE TURBINADO

Leilão de serviço de telefonia móvel de terceira geração começa com ágio de até 273%.

Vivo, Oi, TIM e Claro deram, ontem, o pontapé inicial na disputa dos grandes grupos de telecomunicações pela exploração da terceira geração (3G) da telefonia móvel no Brasil. A nova tecnologia transforma o celular em computador de bolso ao permitir acesso à internet em alta velocidade. Hoje, há operadoras que dizem dispor de serviços de 3G - como transferência de dados e reprodução de vídeos. No entanto, estão longe de oferecer serviços na alta velocidade que a terceira geração propicia.

No leilão de ontem, as empresas venceram a licitação para as quatro faixas de freqüência da área 1, a segunda mais valorizada, que inclui Estado do Rio, Espírito Santo, Bahia e Sergipe. Demonstrando a importância do leilão para o futuro das operadoras no mercado, elas vão pagar, juntas, R$1,918 bilhão pela fatia conquistada, ágio médio de 160,45% sobre o preço mínimo - um dos lances vencedores chegou a ser 273,92% superior ao piso fixado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Estão sendo vendidas 11 áreas de exploração do serviço, num total de 36 lotes. Cada região tem quatro faixas de freqüência, leiloadas uma a uma. A agência somente conseguiu leiloar cinco ontem - a primeira faixa da área 2 (regiões Sul, Centro-Oeste e parte da Norte) também foi vendida para a Vivo, por R$528,2 milhões, com ágio superior a 132%. Com esse resultado, o ágio médio das cinco faixas leiloadas foi de 153,7%, e o valor total arrecadado chegou a R$2,446 bilhões. Nesse ritmo, a projeção é que o leilão vá até sexta-feira.

Até a véspera da licitação, as operadoras reclamavam que as licenças estavam caras, e o mercado estimava ágio de, no máximo, 35%. Pouco antes da abertura da rodada, a expectativa da Anatel era obter ágio de apenas 25% - R$700 milhões sobre o piso de R$2,8 bilhões para as 11 áreas. Quem puxou os preços, obrigando os concorrentes a elevarem os lances, segundo analistas, foi a Nextel.

Áreas de SP também serão disputadas

Assim que os primeiros envelopes foram abertos, começou a disputa acirrada. Vivo e Nextel se alternaram nas propostas e, após uma hora e 40 minutos, a Vivo ganhou a licitação com uma proposta de R$310,356 milhões, pagando ágio de 89,62%.

A segunda faixa da área 1 começou a ser disputada em seguida, com quatro competidores: TIM, Oi, Nextel e Claro. O piso de R$245.504.580,31 foi rapidamente superado. A TIM foi a primeira a desistir da disputa, ao ver-se obrigada a apresentar uma proposta de R$445,5 milhões para prosseguir. A Nextel saiu em seguida. A Claro foi a última a desistir, ao ter de oferecer R$491,2 milhões. A Oi ganhou com uma proposta de R$467,9 milhões, um ágio de 90,59%.

Na terceira faixa, Nextel, Claro e TIM brigaram acirradamente e, depois de as duas primeiras desistirem, a TIM levou a licença por R$528 milhões, ágio de 222,6% sobre o preço mínimo de R$163.669.720,21. A última faixa do Rio, a mais disputada, entre Claro e Nextel, teve ágio de 273,92%.

Para o superintendente de Serviços Privados da Anatel, Jarbas Valente, o ágio dos próximos lotes poderá continuar alto, principalmente porque ainda não foram leiloadas as duas áreas de São Paulo - capital e interior - que despertam muito interesse das operadoras. Ele acredita que o ágio poderá ficar em torno de 150%. A empresa que levar capital e municípios nos arredores também terá de oferecer o serviço na Região Amazônica. A operadora que ganhar a licença para o interior paulista deverá explorar os estados do Nordeste.

Analistas: retorno só em cinco anos

Valente estima que as empresas comecem a operar o 3G no primeiro semestre de 2008. Mas elas têm prazo de 12 meses, a partir da assinatura dos contratos, para entrar em ação. Ele disse ainda que os recursos arrecadados com o pagamento das licenças serão repassados ao Tesouro. Somente uma parte vai para o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Valente admitiu que os recursos ajudarão a compensar a perda de arrecadação do governo por causa da CPMF.

Segundo analistas de telecomunicações, o ágio ficou acima do esperado. Para Luciana Leocádia, analista da Ativa Corretora, a entrada da Nextel na disputa inflacionou o leilão.

- A entrada de um quinto player não esperado puxou o ágio. Está saindo mais caro do que se esperava. As empresas vão demorar muito, pelo menos cinco anos, para começar a perceber o retorno do investimento - afirma.

Alex Pardella, analista de investimentos da Banif Corretora, também considera o ágio alto e acredita que todo o leilão seguirá esse ritmo.

- O preço inicial não era tão alto e as empresas não se acanharam de pagar um ágio tão elevado. Inicialmente, a tecnologia 3G vai receber apenas a migração de clientes 2G. Será preciso criar meios para atender à massa de consumidores que não são de alto valor.