Título: Investimento baixo
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2009, Economia, p. 18

Crise afugenta investidores e capital estrangeiro destinado à produção brasileira registra queda de quase 40% no primeiro trimestre. A cifra ficou em US$ 5,3 bilhões, o pior resultado para o período desde 2006

A crise econômica mundial tem derrubado o volume de investimentos estrangeiros diretos para o país. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 5,34 bilhões no primeiro trimestre do ano, quase 40% a menos do que os US$ 8,80 bilhões que ingressaram no mesmo período de 2008. É o pior resultado para o trimestre desde 2006. Em março, o investimento direto alcançou somente US$ 1,44 bilhão, volume bastante inferior ao esperado pelo próprio Banco Central, que estimava para o mês investimentos diretos superiores a US$ 2 bilhões.

O chefe do Departamento Econômico do BC (Depec), Altamir Lopes, admitiu que o investimento estrangeiro direto em março veio abaixo da estimativa. Ele comentou que tudo vinha dentro da expectativa até o fim do mês, quando ocorreram duas operações inesperadas de retorno de investimento. Uma delas diz respeito à venda de postos de gasolina e outra de uma processadora de cartão de crédito. ¿O resultado vinha forte e, por conta dessas duas operações, retrocedeu¿, explicou.

A manutenção do fluxo de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil é importante porque é com esse dinheiro que o país vem financiando o seu balanço de pagamentos, que é o resultado de todas as transações com o exterior. O déficit em transações correntes, por exemplo ¿ que soma o resultado da balança comercial, dos serviços e rendas e também das transferências unilaterais, de brasileiros no exterior¿ vem sendo financiado pelos investimentos estrangeiros diretos. No trimestre, o déficit em transações correntes atingiu R$ 5 bilhões, enquanto em março esse item do balanço de pagamentos ficou negativo em US$ 1,65 bilhão.

O déficit em transações correntes em março, segundo Lopes, piorou por causa da remessa de lucros e dividendos de uma grande instituição financeira. ¿Esse dinheiro já retornou na forma de aquisição de uma empresa seguradora¿, informou. No caso das transações correntes, a crise tem ajudado o país a restringir o negativo nessa conta. No geral, caiu a remessa de lucros e dividendos, com o país também gastando menos em viagens e em outros serviços, como aluguel de equipamentos e informática.

Resultado: com o país gastando menos, que é uma consequência da crise, o déficit em transações correntes caiu pela metade no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2008 ( US$ 10,26 bilhões). Só em março do ano passado, o déficit em transações correntes havia sido de US$ 4,34 bilhões contra os US$ 1,64 bilhão de março deste ano. O Banco Central mantém, para o ano, a estimativa de déficit em transações correntes de US$ 15 bilhões e de um ingresso de investimentos estrangeiros diretos de US$ 25 bilhões. Em 2008 os investimentos diretos superaram US$ 45 bilhões.

¿É um recuo expressivo¿, reconheceu o chefe do Depec. Mesmo assim, ele ponderou que o país vem obtendo ingressos significativos em tempos de crise. Para abril, por exemplo, Lopes estima investimentos diretos da ordem de US$ 2,3 bilhões. Até ontem, o BC já computava US$ 2 bilhões. E não são só os investimentos diretos que vêm se mantendo. Segundo Altamir Lopes, já começaram a voltar as aplicações de estrangeiros em ações e renda fixa.

O investimento em ações por estrangeiros no país foi positivo em março em US$ 844 milhões. É a primeira vez que isso acontece desde maio do ano passado. Também foi positivo em US$ 708 milhões o investimento em renda fixa no país. Para o mês de abril esses dois indicadores permanecem positivos. Até 22 de abril, o BC contabiliza aplicações de US$ 650 milhões em ações e mais US$ 237 milhões em renda fixa.