Título: Discurso de Fidel provoca debate sobre sucessão
Autor: Galeno, Renato
Fonte: O Globo, 19/12/2007, O Mundo, p. 35

Segundo analistas, líder cubano luta para ficar no poder, após declarar que não "se aferrará" ao cargo.

HAVANA e RIO. Especialistas tentam decifrar as últimas declarações de Fidel Castro, nas quais o líder cubano afirmou que não se aferrará ao poder. Muitos consideram que ele pode estar começando a se despedir do poder, enquanto outros, mais céticos, acreditam que sua intenção é garantir que continuará no círculo central do poder, apesar de sua saúde não permitir um total controle da situação.

A declaração explodiu como uma bomba segunda-feira à noite. Durante um programa noturno da TV estatal, o "Mesa Redonda", foi levado às mãos do apresentador um texto de Fidel, que foi lido, ao vivo. Depois de comentar a Conferência de Bali, Fidel encerra o texto com a polêmica frase, aparentemente não relacionada ao resto do texto:

"Meu dever elementar não é aferrar-me a cargos e, muito menos, obstruir a passagem de pessoas mais jovens, mas fornecer experiências e idéias cujo valor modesto vem da época excepcional que coube a mim viver."

Ele também mencionou o brasileiro Oscar Niemeyer: "Penso como Niemeyer que é preciso ser conseqüente até o final".

Especialistas acreditam que a saída de Fidel do poder - que já estaria ocorrendo desde que, há 16 meses, entregou o poder provisoriamente ao irmão, Raúl Castro - ganhou um novo fator.

- Depois desta declaração, três coisas podem acontecer. Ele pode se manter no poder. Pode ter um cargo que o mantenha próximo das decisões. Ou pode passar a ter um cargo meramente honorário - afirmou Sarah Stephens, diretora-executiva do Centro para a Democracia nas Américas, dos EUA. - Acredito na segunda hipótese.

Segundo Peter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação de Cuba do Arquivo de Segurança Nacional dos EUA, o mais importante não é a possibilidade de ele deixar o poder, mas reconhecer a questão geracional. Fidel tem 81 anos e Raúl, 76:

- Ele entende que está chegando a hora de uma mudança de geração no poder. Carlos Lage e Felipe Pérez Roque têm crescido nos últimos anos.

Lage, de 56 anos, está no Conselho de Governo e é o líder da geração entre 45 e 65 anos, que não combateu em Sierra Maestra, mas esteve nas campanhas de alfabetização e na guerra em Angola, na década de 1970. O chanceler Pérez Roque, de 42 anos, é o principal nome da geração seguinte, conhecida como os "filhos da revolução".

Casa Branca considera mensagem "interessante"

Para Phil Peters, vice-presidente do conservador Instituto Lexington, o dado mais importante será dado em março, quando o novo governo será anunciado, provavelmente com Raúl como presidente:

- Para saber o futuro de Cuba, o mais importante é ver quem será o vice-presidente. Ele será o possível sucessor.

Já a Casa Branca recebeu com cautela a frase.

- Foi uma carta interessante. É difícil saber o que ele está falando ou o que quer dizer, como não é incomum - disse a porta-voz, Dana Perino.

*Com agências internacionais