Título: Vitória passa Brasília e é líder entre as capitais
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 20/12/2007, Economia, p. 37

RIQUEZA CONCENTRADA: Porto Alegre, que tirou a 4ª posição do Rio em PIB por habitante, e Cuiabá são destaques

Com população pequena, cidade capixaba tem renda "per capita" de R$47,8 mil, quase o dobro da paulistana

Letícia Cardoso* e Higino Barros

VITÓRIA, PORTO ALEGRE e RIO. Uma ilha de 310 mil habitantes. Essa é Vitória, a capital brasileira com maior renda per capita. São R$47.855 anuais, bem acima da média nacional, de R$11.658. A cidade ultrapassou Brasília no ranking das mais ricas entre as capitais. E tem um PIB per capita que é quase o dobro do paulistano, de R$24.083. Mas Sheila Zani, coordenadora do projeto de PIB municipal do IBGE, ressalva: Vitória é uma capital pequena, tem população quase igual à de Macapá. Além disso, os municípios vizinhos de Vila Velha e Serra abrigam muitos trabalhadores que, todo dia, vão e voltam da capital.

De qualquer modo, a economia da capital capixaba vem crescendo com força. Entre 2002 e 2005, o município saltou de 24º para 19º no ranking das maiores cidades do país, com PIB de R$14,99 bilhões. O resultado não surpreendeu especialistas nem profissionais liberais, que viram seus negócios prosperarem em Vitória.

Mais crescimento com investimentos em petróleo

De acordo com o economista Orlando Caliman, especialista em desenvolvimento econômico, a geração de renda da cidade está ligada à chegada de grandes empresas, o que provocou uma série de empreendimentos nos setores de construção civil, logística, comércio exterior, tecnologia de comunicação e desenvolvimento de software:

- Vitória está crescendo com o Espírito Santo. Ainda cresceremos mais com os investimentos na área de petróleo, gás e energia.

Há 32 anos no setor da construção civil, o empresário e consultor imobiliário José Luiz Kfuri comemora. Nos últimos cinco anos, suas empresas vêm apresentando altas de 100% nos lucros:

- Hoje, qualquer negócio que se monte em Vitória dá lucro ao empreendedor, se ele souber trabalhar. Fiz um lançamento imobiliário que, em 45 dias de venda, movimentou R$95 milhões. Há cinco meses, lancei um condomínio empresarial, com dois prédios e 32 apartamentos, cada um vendido a R$2 milhões. Hoje só me restam três unidades.

O prefeito de Vitória, João Coser (PT), afirmou que os dados do IBGE reforçam os desafios. Segundo ele, a grande preocupação agora é garantir a distribuição de renda a todas as classes sociais.

Além de Vitória, outro destaque na lista das capitais é Cuiabá, que entrou no grupo dos dez maiores PIBs per capita (R$12.499 ao ano), deslocando Goiânia que, em 2002, era a décima. Porto Alegre também avançou, desbancando o Rio do posto de quarta maior renda per capita, com R$19.582.

Em Porto Alegre, menos impostos para atrair setores

Em 50 anos, a capital gaúcha apresentou déficits econômicos em três ocasiões. Em 2002, ele foi de R$34 milhões, em 2003, de 28 milhões, e em 2004, de R$75 milhões. A recuperação começou justamente em 2005, com superávit de R$35 milhões, e de R$67 milhões em 2006. A partir de 2007 , o secretário municipal da Fazenda, Cristiano Tatsch, prevê o completo equilíbrio financeiro e reinício de investimentos de maior porte, já que a cidade voltou a ter acesso a financiamentos internacionais.

O município arrecada 40% em tributos próprios. O restante vem do Fundo de Participação dos Municípios, do ICMS e do IPVA. Há alguns anos, a cidade perdeu parte de sua arrecadação, porque grande número de empresas migrou para municípios vizinhos, onde a tributação municipal é menor. Para atrair esse público, a secretaria municipal da Fazenda passou a fazer acordos de redução de impostos.

- Porto Alegre está se tornando um pólo de informática de referência no Brasil. Há um núcleo de excelência, conduzido por quatro universidades, que atrai investidores. Baixamos os tributos desse setor, assim como no de propaganda e publicidade e no de recapagem de pneus - afirmou Tatsch.

COLABOROU Luciana Rodrigues *Especial para O Globo