Título: Um país movido por poucos
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 20/12/2007, Economia, p. 37

RIQUEZA CONCENTRADA

Cinco municípios detêm 25% do PIB do Brasil. Rio perde participação.

País com um dos piores índices de distribuição de renda entre seus cidadãos, o Brasil é ainda mais desigual quando se comparam as riquezas geradas por seus diferentes municípios. Apenas cinco cidades - São Paulo, Rio, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte - respondem por um quarto do tamanho da economia nacional. Bastam 51 municípios, entre os 5.564 existentes no Brasil em 2005, para se chegar à metade da produção de bens e serviços do país.

Embora se mantenha como segunda maior economia do país, o Rio de Janeiro perdeu importância em relação aos demais. Na verdade, foi a cidade que teve maior queda de participação no PIB nacional entre 2002 e 2005. O percentual caiu de 6,2% para 5,5%.

Ao atualizar os dados sobre o peso de cada atividade econômica no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos ao longo de um ano) dos municípios, o IBGE encontrou uma concentração ainda maior do que a anteriormente estimada. No levantamento feito no ano passado, estimando dados para 2004, mas tendo como referência a estrutura produtiva do país em 1985, dez cidades somavam 25% do PIB nacional. Agora, são apenas cinco.

Nova metodologia causou mudanças

A mudança ocorreu porque, no novo PIB, o setor de serviços ganhou mais expressão. Pela metodologia antiga, essas atividades representavam 55,7% da riqueza nacional. Agora, os serviços têm peso de 66,3% no PIB brasileiro.

- Isso tem um reflexo direto nos municípios. Com o peso de serviços maior, as capitais passaram a ser mais representativas, porque concentram a administração pública, o setor financeiro, os serviços de alta tecnologia - explica Sheila Zani, coordenadora do projeto de PIBs municipais do IBGE. - O importante é que a nova metodologia está refletindo a economia brasileira como ela realmente é.

E essa realidade é concentradora. O IBGE calculou um índice de Gini (referência para medir desigualdade que varia de zero a 1 e que, quanto mais perto de 1, pior) para os PIBs dos municípios brasileiros e chegou a 0,86. É um patamar muito superior ao já elevado 0,528 do Gini de distribuição da renda domiciliar no Brasil. E o Gini dos municípios se mantém congelado em 0,86 desde 2002.

O economista Daniel da Mata, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima que essa elevada concentração remonta a pelo menos três décadas. Nas suas contas, o Gini da distribuição espacial das riquezas no Brasil era, em 2000, exatamente igual ao de 1970. Mata usou os dados de geração de empregos formais e informais nas cidades - já que não existem dados do IBGE para PIBs municipais nesse período - e chegou a um índice de 0,70.

- Se no início a urbanização brasileira teve como motor o setor industrial, depois as fábricas saíram das capitais para as cidades do entorno metropolitano e, posteriormente, para o interior. Hoje, as grandes cidades já não têm mais indústrias, são cidades de serviços. Como esse setor ganhou peso, é natural o PIB municipal aparecer mais concentrado - explica Mata.

Concentração tende a crescer

E a tendência é que, em 2006 e 2007, a concentração aumente, prevê o economista Sérgio Besserman, ex-presidente do IBGE e hoje à frente do Instituto Pereira Passos (IPP). Ele lembra que a economia brasileira viveu uma recessão em 2003 e, em 2004 e 2005, o crescimento foi liderado pelo agronegócio e pelas exportações. Desde o ano passado, porém, houve a retomada do mercado interno e, com isso, um maior aquecimento do setor de serviços - que é mais relevante nas capitais e, por isso, deve levar a um aumento da desigualdade nos PIBs municipais.

Na lista das dez maiores economias municipais do Brasil, oito capitais dividem o espaço com duas cidades paulistas, Barueri (8ª no ranking) e Guarulhos (10ª). Barueri retirou Campinas do grupo e, entre 2002 e 2005, foi a cidade que mais elevou sua participação no PIB nacional.

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, destacou a importância de se medir a riqueza dos municípios:

- São informações úteis à formulação de políticas públicas e também para as decisões de investimentos de empresas privadas.