Título: BC projeta déficit nas transações com exterior
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 20/12/2007, Economia, p. 48

Maior envio de lucros e menor saldo comercial devem gerar em 2008 o primeiro resultado negativo da era Lula: US$3,2 bi.

BRASÍLIA. Pela primeira vez sob o comando do presidente Lula, o Brasil vai registrar déficit em transações correntes, que são as operações do país com o exterior, como pagamento de juros, gastos com viagens e comércio. Isso vai acontecer em 2008, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), que refez suas projeções e concluiu que, em vez de um superávit de US$3,5 bilhões, como previa, o saldo ficará negativo em US$3,2 bilhões. As principais pressões são o aumento das remessas de lucros e dividendos e a queda do saldo comercial. Mas isso não significa que a economia vai mal. Ao contrário, avaliam BC e especialistas:

- O cenário é bom, com a entrada dos investimentos estrangeiros diretos ajudando a equilibrar o balanço de pagamentos. Um déficit de até US$10 bilhões é bom - afirmou o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz.

A última vez em que o Brasil registrou déficit em conta corrente foi em 2002, de US$7,637 bilhões. Na época, a balança comercial era bem menor e a economia vivia turbulências por causa das eleições. De lá para cá, o superávit atingiu o teto de US$13,985 bilhões, em 2005. Neste ano, no entanto, a conta começou a desacelerar e deve fechar em US$2,4 bilhões, segundo a nova projeção do BC. Antes, a instituição esperava US$7,8 bilhões.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o déficit vem das importações maiores e das remessas de lucros e dividendos mais intensas. Só no mês passado, elas foram de US$2,131 bilhões, acumulando no ano US$18,116 bilhões, volume recorde para o período. Para 2007, a previsão subiu de US$16,5 bilhões para US$20,9 bilhões e, para 2008, de US$16,8 bilhões para US$20 bilhões.

Investimento externo direto deve fechar em US$35 bi

Em novembro, as transações correntes já vieram negativas em US$1,344 bilhão, quase o dobro da expectativa do BC, de rombo de US$700 milhões. Pesaram o saldo comercial menor - US$2,027 bilhões - e as remessas. O gasto com viagens internacionais, mais robusto por causa do dólar barato, também influenciou. O déficit dessa conta foi de US$369 milhões, três vezes mais do que em igual mês de 2006. Neste ano, acumula US$2,945 bilhões, levando o BC a puxar as estimativas de US$2,8 bilhões para US$3,4 bilhões. Para 2008, a revisão foi de um déficit de US$1 bilhão para US$3,5 bilhões.

Para a balança comercial, o BC cortou suas projeções de superávit em 2007 e 2008. Para este ano, as contas caíram de US$40 bilhões para US$39 bilhões. Para 2008, de US$34 bilhões para US$30 bilhões.

Se, pelo lado das transações correntes, o país caminha para déficits, o ritmo de entrada dos investimentos estrangeiros diretos (IED) não pára de se intensificar. Até novembro, o saldo era de US$33,73 bilhões, recorde absoluto para anos fechados. Até então, o melhor desempenho tinha sido em 2000, ano marcado por privatizações, quando entraram US$32,779 bilhões para o setor produtivo.

Assim, o BC mudou as estimativas sobre IED deste ano, que passaram de US$32 bilhões para US$35 bilhões. Para 2008, a projeção permanece em US$28 bilhões. Os cálculos partem da premissa de novos investimentos, em vez de possíveis compras de empresas por estrangeiros. Os desembolsos de IED, disse Lopes, estão ocorrendo de forma pulverizada na economia. No mês passado, ficaram em US$2,53 bilhões, e, até ontem, somavam US$500 milhões em dezembro, abrindo espaço para a projeção do BC de que fechará o período em US$1,3 bilhão.