Título: Dom Cappio: Encerro meu jejum, mas não minha luta
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Fonte: O Globo, 21/12/2007, O País, p. 14

Bispo perdeu 9 quilos em protesto contra obra no São Francisco.

SOBRADINHO (BA) e PETROLINA (PE). "Depois desses 24 dias, encerro o meu jejum, mas não a minha luta". Com estas palavras, lidas em um comunicado por um de seus assessores, o Bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, anunciou ontem à noite o encerramento de sua greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, que durou 24 dias. O anúncio aconteceu em uma missa do lado de fora da Igreja de São Francisco, em Sobradinho (BA), local em que o religioso fez o jejum.

O frei voltou ontem à noite para o Hospital Memorial, em Petrolina (PE), onde fora internado anteontem com nove quilos a menos e bastante debilitado. Ele será submetido a um tratamento de reabilitação corporal e reidratação. A alimentação será restabelecida gradualmente.

O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, foi informar ontem à noite ao presidente Lula a decisão de dom Cappio de encerrar a greve de fome. Segundo Carvalho, que vinha negociando com a CNBB em nome do governo, o episódio serviu como aprendizado:

- É importante intensificar o diálogo com movimentos sociais, que muitas vezes estão mal informados, que se prendem a informações que não são verdade. As entidades embarcaram numa mistificação.

A expectativa pelo fim da greve de fome era enorme do lado de fora da capela. Pelo menos, 600 pessoas acompanharam a missa campal. Ao anunciar o término do protesto, dom Cappio pediu desculpas ao povo que ele fez sofrer com o jejum. A reação foi estrondosa e comovente, com salvas de palmas e muitas lágrimas, inclusive dos bispos que ajudavam a celebrar a cerimônia. Em seguida, seu assessor Adriano Martins leu uma carta com explicações sobre o ato.

"Ouvi com profundo respeito o apelo de meus familiares, amigos e das irmãs e irmãos de luta que me acompanham e que sempre me quiseram vivo e lutando pela vida", dizia o documento. "É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho, que eu encerro meu jejum", afirmou dom Cappio.

A carta tinha palavras duras às autoridades: "Ontem (anteontem), vimos com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário", bradava. "Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer nossa mobilização. Até derrotarmos este projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco".

Dom Cappio deixou ontem à tarde o hospital onde ficou quase 24 horas internado. Ao sair, numa cadeira de rodas, segurando um frasco de soro, não falou, mas fez gestos de que estava bem, apesar dos nove quilos perdidos.

* Da Agência A Tarde