Título: Entre a greve de fome e os 12 milhões de nordestinos, fico com os nordestinos
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 21/12/2007, O País, p. 15

Presidente cobra da Igreja uma posição contra o protesto de dom Cappio.

DOM CAPPIO: O presidente afirmou que não suspenderá as obras de transposição do Rio São Francisco, que classificou como o projeto mais humanitário de seu governo, mesmo que o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, mantivesse a greve de fome. "Se o Estado cede, o Estado acaba. E o Estado precisa funcionar", disse Lula. "Entre a greve de fome e os 12 milhões de nordestinos que serão beneficiados, eu fico com os nordetinos. Só quem carregou lata d"água na cabeça e viu sua cabrinha morrer sabe o que é a seca no Nordeste", completou.

GREVE DE FOME: Lula lembrou que em 1980, quando estava preso, fez uma greve de fome de seis dias, interrompida por orientação da Igreja Católica. "Eu sei o que é greve de fome, dá uma fome danada. Foram seis dias tomando água com sal", contou. Segundo Lula, o arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, procurou-o na época e argumentou que somente Deus dá e tira a vida, convencendo-o a pôr fim ao jejum. O presidente cobrou da Igreja o mesmo comportamento em relação a dom Cappio. "Espero que a Igreja diga para ele o que disse para mim e que ele siga os preceitos cristãos. Espero que ele tenha juízo." Disse esperar que a Igreja Católica siga seus princípios e não entre em uma questão técnica, como a transposição.

LOBÃO NO GOVERNO: O presidente negou que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) será o novo ministro de Minas e Energia, por indicação do PMDB. "Você que vai indicar?", respondeu Lula à jornalista que lhe perguntou sobre Lobão. E disse se surpreender com informações publicadas na imprensa: "Tem coisas que não sei, que não digo para ninguém. É por isso que eu digo que é preciso saber o peso das palavras".

LULA ZEN: Lula disse que só pensará nas medidas para compensar a CPMF depois do Natal e Ano Novo, mas admitiu que poderá adotar medidas administrativas emergenciais para compensar o rombo de R$40 bilhões em 2008. Disse que não ficou "nem um pouquinho nervoso" com o fim da CPMF no Senado. "Não sou zen, mas aprendi que não se toma decisão com febre alta. Nenhuma medida dá certo quando feita com vingança". Disse que os líderes queriam adiar a votação. "Falei: vota logo para virarmos essa página".

CORTE DE GORDURAS: Admitiu que cortará gorduras. "Se tiver gordura para tirar, a gente faz regime cetônico", disse Lula, referindo-se à dieta que corta carboidratos.

POBREZA DE ESPÍRITO: Segundo Lula, o que pesou na votação da CPMF foi a sucessão em 2010. "Alguns acharam que o presidente ia ficar muito forte e fazer o sucessor em 2010. Acho isso uma pobreza de espírito. Isso me dá pena".

BASE ALIADA: Lula admitiu que, dos 53 senadores filiados aos partidos da base, só conta com 45. "Temos a maioria, mas, com esse número, dá para aprovar tudo menos as PECs".

CRISE AMERICANA: O presidente disse ter pedido ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que fiquem atentos à situação dos EUA. "A única coisa que me deixa de antena ligada neste fim de ano na economia é o tal do subprime americano".

IMPRENSA: Para Lula, desculpa é palavra que não existe no dicionário da imprensa. Segundo ele, em 2003, quando falou em espetáculo do crescimento no ano seguinte, foi criticado, mas o PIB cresceu 5,7% e ninguém lhe pediu desculpas.

SUSTO NA BOLÍVIA: O presidente disse que ficou assustado quando o ministro da Justiça, Tarso Genro, desmaiou no anúncio de obras da estrada entre Brasil, Chile e Bolívia. "Pensei que o Tarso tinha morrido. Ele caiu de cara no chão." Contou que, depois do episódio, ficou com medo de ter um "piripaque": "Dormi com a porta aberta e as luzes acesas". Mas defendeu partidas de futebol em La Paz, argumentando que os jogadores são "meninos de 20 anos".