Título: Farc pedem renúncia de Uribe
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Fonte: O Globo, 21/12/2007, O Mundo, p. 42

Guerrilha diz que entregará reféns se presidente sair. Para jornais, Ingrid pode estar na Venezuela.

BOGOTÁ

Dois dias depois de anunciarem a libertação próxima de três reféns, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) voltaram a endurecer seu discurso, exigindo a renúncia do presidente Alvaro Uribe e de seu Gabinete para libertar todos os seqüestrados em seu poder - que seriam centenas. Jornais colombianos e venezuelanos especulam que os três reféns já estariam na Venezuela, e alguns deles afirmam que a ex-senadora Ingrid Betancourt pode estar com eles.

"A renúncia imediata de Uribe e seu governo garantiria a libertação dos prisioneiros com vida através de um acordo humanitário sem qualquer obstáculo", disse Raúl Reyes, do comando das Farc, num comunicado na internet. A declaração reduz as esperanças de obter a libertação dos demais reféns através da negociação.

Na terça-feira, as Farc anunciaram a libertação de três dos 45 políticos, militares e policiais seqüestrados, num ato de desagravo à suspensão da mediação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, por Uribe.

- Acho que o pedido de renúncia de Uribe é parte do discurso das Farc. A mudança mais importante é que os dois lados adotaram medidas unilaterais, mostrando maior flexibilidade, embora não se conheça as condições da entrega acertada com Chávez - disse ao GLOBO Marcos Romero, professor de Ciências Políticas da Universidade Nacional da Colômbia.

Fontes citam sítio de ex-ministro

Clara Rojas, ex-assessora de Ingrid; o filho, Emmanuel, nascido no cativeiro; e a ex-deputada Consuelo González teriam começado a se deslocar na selva colombiana há semanas, saindo da região de Guavire, através de Guainía e Vaupés, informou ontem "El Tiempo". Analistas e órgãos de segurança ouvidos pelo jornal colombiano acreditam que eles já estão na Venezuela e serão libertados antes do Natal.

Levando em conta a data de assinatura do comunicado (9 de dezembro) mais o tempo decorrido até sua divulgação (terça-feira), é provável que a guerrilha já esteja perto de entregá-los na Venezuela ou perto da fronteira. Especula-se que a libertação poderia ocorrer no estado de Barinas, governado pelo pai de Hugo Chávez.

- Não há dúvidas de que a entrega será fora do país, à medida que é parte do acordo com Chávez - disse o analista político Pedro Medellín.

A informação encontra eco em reportagens publicadas na Venezuela nos últimos dias que afirmam, citando fontes não identificadas, que eles já estariam em Caracas ou num sítio perto da fronteira. Segundo "El Nacional", eles estão "num sítio do ex-ministro do Interior Ramón Rodríguez, em Barinas". Com eles, estaria Ingrid para receber assistência médica. A reportagem conta que "Chávez entregará a jóia da coroa das Farc (Ingrid)". Já "Últimas Notícias" diz que Ingrid chegou a Caracas no fim de semana e "pode estar no Forte Tiuna, enquanto melhora e espera o regresso de Chávez", que visita Cuba.

A senadora colombiana Piedad Córdoba - que também intermediava a negociação - disse que a entrega dos reféns poderia ser na Venezuela ou no Brasil.

Analistas chamam a atenção para as implicações da possível entrega dos reféns em outro país e como isso tira de Uribe o controle dessa crise. Segundo a agência Anncol, que publicou o comunicado das Farc, "todos os indícios indicam que o intercâmbio humanitário se dará sem Uribe".

- O governo está impotente e só há uma forma de recompor a situação: a desmilitarização - disse o analista Leon Valencia, referindo-se à exigência das Farc sobre dois municípios. - Assim, poderia recuperar legitimidade para que outros não intervenham.

Ontem, o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, pediu que Piedad revele se foi ele o funcionário do governo a ameaçá-la de morte. Na véspera, a senadora anunciou um plano para assassiná-la. O ministro disse ter ouvido rumores de que a senadora o acusou, e ameaçou processá-la por calúnia.

- Se ela diz isso a jornalistas, que o diga em público. Quem sabe que favor está fazendo às Farc ou a qualquer inimigo da Colômbia?