Título: Não tínhamos os recursos para segurança
Autor: Mazzitelli, Fábio
Fonte: O Globo, 22/12/2007, O País, p. 12

ARTE ROUBADA: Arquiteto afirma que sistema parecia seguro, já que outras duas tentativas de roubo fracassaram

Presidente do Masp admite que museu não tinha alarme sonoro e que monitoramento era visual e por rádio

Presidente do Museu de Arte de São Paulo (Masp) desde 1994, o arquiteto Júlio Neves, de 75 anos, diz que espera poder investir, em 2008, em equipamentos de segurança. Ele admitiu que o sistema de segurança do museu não tinha alarme sonoro e era baseado no monitoramento visual e na comunicação por rádio da equipe de segurança, de 50 homens. O roubo de obras de Picasso e Portinari foi a terceira investida de ladrões no museu, em dois meses.

Fábio Mazzitelli*

Como explica o furto?

JÚLIO NEVES: Foi uma surpresa muito grande. Houve duas tentativas recentes, e a gente achava que aquilo estava absolutamente seguro. Verificou-se que não.

A maneira como ocorreu, com pé-de-cabra e macaco hidráulico, não foi primária?

NEVES: Não sei se isso foi para poder revelar amadorismo ou se é amadorismo mesmo.

O alarme estava desligado?

NEVES: Não. O sistema que está lá não está complementado para o alarme. Era um alarme dos seguranças, de um avisar o outro. Agora vamos ver o que existe de equipamento mais moderno do que aquilo que existia há cinco, seis anos atrás, para podermos fazer (o sistema interno de vídeo foi instalado em 2000). Não tínhamos os recursos para fazer (a segurança). Agora, vamos atualizar, sofisticar alguns equipamentos.

As tentativas anteriores não indicavam a necessidade de um reforço na segurança?

NEVES: Não, ao contrário. Para a gente, era um sinal de que funcionava. Era um sistema de aviso, eles têm aqueles rádios de comunicação. Depende de uma coisa visual, que tanto temos as câmeras como o aviso pelos rádios. Nenhum museu do mundo tem 100% de garantia (na área de segurança), e só um ou dois museus no Brasil podem ter uma coisa mais sofisticada do que a nossa. Os outros, não.

Não havia seguro?

NEVES: Nenhum museu no mundo tem a sua obra, quando está dentro do museu, segurada. Para isso, teria que vender uma ou duas por ano para pagar o seguro. Agora, não chega na porta sem estar no seguro.

Qual é o prejuízo?

NEVES: O acervo do Masp está no nosso balanço classificado por R$1 porque não temos qualquer intenção de vender nada. O valor dele é um artístico incomensurável. As duas obras furtadas são insubstituíveis porque você não tem condição de encontrar a mesma obra. São invendáveis. Não há uma galeria no mundo que não tenha conhecimento de que essas obras foram furtadas e nem museu ou instituto cultural que não tenha esse conhecimento.

O ministro Gilberto Gil acredita que o crime tem relação com uma rede internacional organizada. Concorda?

NEVES: Todas as hipóteses têm de ser consideradas. Só acho estranho duas obras serem furtadas. A pessoa entrar e roubar uma no começo e outra a 50 metros e passar por uma série de outras que, até do ponto de vista comercial, seriam mais comercializadas ou de maior valor que essas.

O Masp será superavitário este ano?

NEVES: Acreditamos que sim. Recebemos apoios importantes. Temos compromissos anteriores que estamos liquidando. A dívida foi renegociada. No começo do ano, era da ordem de R$10 milhões. Foi renegociada para pagar em 2008, 2009 e 2010, o que nos permitiu uma folga.

(*) Do Diário de S. Paulo