Título: A clientela é muito carente, os pais são analfabetos e não sabem ensinar
Autor: Menezes, Maiá; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 23/12/2007, O País, p. 3

Em PE, professores relatam falta de base de crianças desde a pré-escola.

RECIFE. Tido como um dos estados de pior qualidade na educação no país - em quase todas as avaliações oficiais ou de instituições não-governamentais -, Pernambuco também padece do problema de analfabetismo entre crianças da 4ª série. Para a Associação de Pais e Alunos das Escolas Públicas Municipais e Estaduais, o problema deve-se a três fatores principais: omissão do poder público, desvalorização do magistério e falta de acompanhamento pedagógico da família. O presidente da entidade, Manoel Santos, reclama que a dificuldade começa cedo: as crianças deixam a pré-escola sem preparo para a complementação da alfabetização.

-- Normalmente elas chegam ao ensino fundamental completamente analfabetas, quando deveriam estar alfabetizadas. O problema é geral no Nordeste.

Vice-diretora da Escola Estadual Cônego Rochael de Medeiros, Tânia Leão perdeu as contas das crianças que recebia na 1ª série sem saber quase nada. Ela acha que a educação infantil ainda tem situação crítica.

- Nós temos grandes dificuldades. A clientela é muito carente, os pais são analfabetos e não sabem cobrar ou ensinar aos filhos, delegando toda essa responsabilidade à escola. O ideal seria a integração - diz.

Alunos da 4ª série escrevem com dificuldade

Professora da 1ª série do mesmo colégio, Ada Celene Vasconcelos de Souza afirma que a situação na unidade é melhor do que em muitas outras da região metropolitana, porque grande parte dos alunos passou por período preparatório no Jardim Ana Rosa, que funciona quase vizinho ao colégio. Segundo ela, dos 22 alunos que permaneceram na escola até o fim do ano, 14 estão lendo fluentemente, o restante lê com lentidão e seis têm aulas de reforço.

Na 4ª série, segundo a professora Ana Carla Fernandes Freitas, as crianças estão alfabetizadas, mas muitas têm dificuldade de entendimento do texto. O GLOBO pediu a alguns alunos que escrevessem a frase "Toda criança tem direito a uma boa educação". Aos 11 anos, P. escreveu "ten" e "una". S., de 11 anos, engoliu um "a" do artigo indefinido "uma". T., de 10 anos, mostrou insegurança e escreveu com letras de fôrma, mas não cometeu erros de ortografia. C., de 11 aos, também não errou nada. Aos 12 anos, Andreza Maria e Taísa Carla Bezerra, do Colégio Municipal Nilo Pereira, no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte, que repetiram a 3ª série, praticamente não erraram ao escrever a frase. Taísa só esqueceu o cedilha de educação.