Título: Passagem pela escola, sem aprender
Autor: Menezes, Maiá; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 23/12/2007, O País, p. 3

Pesquisa aponta problemas de aprendizagem também entre jovens e adultos.

A taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 a 64 anos que freqüentam ou freqüentaram os primeiros cinco anos do ensino fundamental também atesta a ineficiência da rede escolar. Dados do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, que anualmente calcula o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), mostram que o índice este ano é de 12% - o mesmo identificado pelo Instituto Ayrton Senna entre os alunos de 1ª a 4ª série. Ou seja: a passagem pelos primeiros anos de escola não garantiu a esse percentual de brasileiros aprendizado básico. Para o instituto, analfabetismo absoluto é a incapacidade de decodificar palavras e frases, ainda que em textos simples.

- De um lado, o dado mostra a fragilidade do que se aprende na escola. Mas, por outro lado, a não-utilização do que se aprendeu pode ter levado ao esquecimento. Pelo modelo de vida que a pessoa teve, ela desaprende - afirma Ana Lúcia Lima, responsável pelo Inaf 2007.

Um outro dado da pesquisa chama a atenção: a grande maioria (64%) dos brasileiros entre 15 e 64 anos que estudaram apenas até a 4ª série conseguiu alcançar no máximo o grau rudimentar de alfabetismo - registram apenas textos curtos e efetuam no máximo operações matemáticas simples.

- Há 30 anos, analfabeto era o que não sabia assinar o próprio nome. Mais modernamente, assinar o próprio nome não é propriamente sinal de estar alfabetizado - explica Ana Lúcia.

Os dados referentes aos últimos anos do ensino fundamental também são preocupantes. Apenas 20% dos alunos que cursaram da 5ª a 8ª série podem ser considerados plenamente alfabetizados, enquanto 26% ainda permanecem no nível rudimentar.

- Deveríamos ter chegado à universalização do ensino há 20 anos. Estamos pagando o preço por estar fazendo de forma atrasada - disse Ana Lúcia.