Título: Palocci volta à cena e já ofusca Mantega
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 23/12/2007, O País, p. 10

Convocado por Lula durante as negociações da CPMF, ex-ministro ganha força e recebe novas missões do governo

BRASÍLIA. Longe dos holofotes, o deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) voltou a atuar com força no núcleo do poder. Ele virou uma espécie de articulador político informal do Palácio do Planalto, depois de ter deixado o governo no ano passado, durante o episódio da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa.

Palocci foi convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atuar na reta final das negociações da CPMF. Com a rejeição do imposto, passou a assessorar Lula pessoalmente no debate interno para compensar a perda de quase R$40 bilhões em recursos. Até então, Palocci resistia a assumir missões do governo. Havia decidido mergulhar para evitar ser o foco do noticiário.

Presidente ignora Mantega e ouve conselhos de Palocci

O primeiro passo para o retorno de Palocci ocorreu quando a proposta para a prorrogação da CPMF ainda estava na Câmara. Atendendo a apelos dos líderes dos articuladores governistas, aceitou relatar a matéria. Desde então, voltou a ser interlocutor freqüente do presidente Lula, principalmente para questões econômicas.

Ministros e assessores palacianos que participaram das negociações internas sobre a CPMF ficaram impressionados como Lula ainda é influenciado pela opinião de Palocci. O ex-ministro voltou a ser consultado para todos os assuntos econômicos do governo. Na reunião no Planalto que definiu a proposta de destinar 100% da CPMF para a saúde, contou um dos presentes, chegou a causar constrangimento o fato de o presidente ignorar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, enquanto todas as opiniões de Palocci eram levadas em consideração.

- Até parecia que o ministro da Fazenda era Palocci, enquanto Guido nada mais era do que um simples assessor - relatou essa fonte.

Cada vez mais, Palocci vem ganhando atribuições secretas do próprio Lula, o que já esta causando certo desconforto na atual equipe do Ministério da Fazenda. Foi assim na CPMF. E continua na formatação do plano que está sendo debatido pelo governo. Na semana passada, ele foi consultado para opinar sobre os cortes que serão apresentados pela equipe econômica para compensar as perdas com o fim da CPMF. Lula quer saber o ponto de vista de Palocci para tudo.

Foi um conselho do ex-ministro que fez com que Lula desautorizasse o debate sobre redução do superávit primário. Mantega chegou a defender internamente a redução do superávit, por sugestão dos seus auxiliares. Mas Palocci venceu a queda-de-braço. A determinação de Lula foi dada na manhã seguinte à derrota da CPMF e tranqüilizou o mercado financeiro.

O Planalto já identificou, inclusive, a boa aceitação de operadores do mercado em relação à presença de Palocci. Foi ele quem discretamente mandou o governo recuar do tom alarmista com o fim da CPMF, para um tom cauteloso de que a derrota não é o fim do mundo. Palocci convenceu o governo que esse discurso só prejudicaria a economia brasileira. Imediatamente, Lula passou a adotar um tom sereno em relação as conseqüências da derrota no Senado.

"Palocci é um craque", diz presidente do PSDB

Palocci também foi visto discretamente no Ministério da Fazenda nas últimas semanas. Colegas de governo já identificaram a insatisfação de Mantega com a sombra de Palocci. Apesar de não correr risco de sair do governo, Mantega saiu muito enfraquecido das negociações com a oposição sobre a CPMF.

Segundo um assessor palaciano, Lula decidiu que Mantega não deve mais participar de articulações políticas. O governo avalia de forma reservada que ele não tem habilidade necessária para cumprir esse tipo de missão. Por isso, as ações do ministro devem ficar restritas a questões técnicas. E Palocci assumiu essa função.

- O Palocci está à disposição para ajudar o governo. Ele tem muita experiência nessa área. Além disso, tenho solicitado muito Palocci porque a oposição confia muito nele - diz o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

O deputado e ex-ministro também negociou com a oposição secretamente. Ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tornou-se o principal interlocutor do governo com caciques do PSDB, inclusive o governador de São Paulo, José Serra (SP).

- Palocci é um craque. Com ele, avançou muito o diálogo com a oposição. Ele é inteligente, lúcido. Se ele estivesse nas negociações desde o início, não tenho dúvida que o resultado seria outro. Isso porque ele é claro, e não alimenta ilusões - diz o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

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