Título: Lupi tira cargos do PT e dá ao PDT no ministério
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 23/12/2007, O País, p. 11

Comando de delegacias regionais do trabalho e postos da pasta passam a sindicalistas e correligionários do ministro

BRASÍLIA. Nos oito meses em que está à frente do Ministério do Trabalho, Carlos Lupi não perdeu tempo e mostrou habilidade para ocupar os espaços antes loteados pelo PT. Como presidente do PDT e parceiro das centrais sindicais, vem aparelhando com sindicalistas e correligionários não só os principais cargos do ministério nos estados, mas especialmente as cobiçadas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs).

Acumular a presidência do PDT com o ministério, para a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, são funções incompatíveis. Mas Lupi vem conseguindo transformar a dupla tarefa em uma única. Como ministro, aliou-se às centrais em suas reivindicações de reintroduzir a obrigatoriedade do imposto sindical, ganhando-lhes a confiança. E, como dirigente partidário, cavou bons espaços para filiados e dirigentes do PDT. E premiou sindicalistas.

Partido domina oito das 27 DRTs no país

Das 27 DRTs espalhadas pelos estados, o PDT já domina oito. Um dirigente da Nova Central Sindical também conseguiu uma vaga. No ministério, o PDT ganhou vagas em assessorias especiais. Aos poucos, o PDT vai substituindo o PT nas relações trabalhistas, o que deverá ser de grande valia para as eleições do ano que vem.

É o caso do Rio de Janeiro. O delegado do trabalho é o ex-deputado estadual Carlos Correia. Secretário-geral do partido no estado, no mês passado ele se lançou candidato a vice-prefeito de São João do Meriti, num jantar que reuniu, entre outros, o ministro e o deputado federal Brizola Neto. Ele comporá a chapa com Sandro Matos, do PR.

Outro ex-deputado estadual que ganhou uma vaga em delegacia do trabalho é Heron de Oliveira. Comanda o posto no Rio Grande do Sul, onde o PDT ainda tem um eleitorado cativo. Em Minas, o partido empossou o ex-presidente do diretório municipal de Belo Horizonte, Osman Miranda de Sales, e, no Paraná, o ex-candidato a prefeito de Arapongas, João Alberto Graça.

Heth Cesar Bismarch e Luiz Miguel Vaz Vieira, integrantes do diretório nacional do PDT, são responsáveis por Alagoas e Santa Catarina, respectivamente. E Francisco de Assis Papito de Oliveira, que integrou o diretório, exerce o cargo de delegado regional no Ceará. No Amazonas, o delegado regional Dermilson Carvalho das Chagas é filiado ao partido há 10 anos. No Espírito Santo, o titular é Enésio Paiva Soares, ex-vice-presidente da Nova Central Sindical.

Em São Paulo, o ministério trocou o delegado Márcio Chaves Pires, do PT, pela auditora Lucíola Rodrigues Jaime. Desde o primeiro mandato de Lula, o PT dominou esse espaço, antes com o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Heiguiberto Guiba Navarro.

Milhares de desempregados buscam as delegacias para homologar a rescisão, buscar por seguro-desemprego ou cursos. E uma boa relação com sindicatos e trabalhadores pode ser valiosa no apoio futuro a candidatos do partido. Ex-presidentes de centrais ou de sindicatos elegeram-se com facilidade pelo tipo de eleitorado que representam.